– Um nome para corno, Bôscoli, eu preciso de um nome para corno!

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– Gusmão!

– Gusmão… Gusmão… Gusmão! Bôscoli, você é retumbantemente safo! Um carioca nato!

Esse diálogo está no livro “A bossa do Lobo” (Denílson Monteiro, 510 páginas, Editora Leya), a biografia do compositor, jornalista, produtor e sedutor Ronaldo Bôscoli, entre outras coisas letrista de “O Barquinho” (O barquinho vai / a tardinha cai), “Lobo Bobo” (sua marca registrada), além de marido de Elis Regina e primeiro amor de Nara Leão.

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Figura polêmica, na última metade do século passado nenhuma beldade pisou no Rio de Janeiro sem passar pela vistoria do lobo nada bobo que, entre muitos afazeres de cama e mesa, começou na imprensa batucando suas teclas ao lado do escritor Nelson Rodrigues.

– Ô, Bôscoli, me paga um café?

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E os dois desciam da redação do jornal A Crítica – conta Denílson Monteiro, que também fez pesquisas para as biografias de Tim Maia, Erasmo Carlos e Bussunda – batendo papo sobre o Fluminense e o dia a dia de cada um: “Nelson era fascinado pela vida noturna que Ronaldo levava. Parecia satisfazer-se com as conquistas amorosas que o amigo relatava como se fossem suas”.

Cronista esportivo que assistiu pela primeira vez a um jogo de futebol no Maracanã, justamente a final entre Brasil e Uruguai na Copa de 50, sua verve o levou a brilhar também na revista Manchete, onde escreveu um texto que parece de encomenda para se pensar no futuro:

“O Maracanã afastou o craque do futebol. O torcedor acostumou-se a ver seus ídolos no plano irreal dos super-homens. Não admite fraquezas no craque. Não aceita que ele chore, ria, sinta. Ou que possua as falhas humanas, os pequenos defeitos. A construção dos estádios modernos aumentou mais a aura dos super-homens. Com seus terrenos além gramado, seus fossos, o Maracanã afastou idólatras e idolatrados. O mistério ganhou muito em eloquência. No tempo em que as decisões se verificavam no campo do Fluminense, por exemplo, o torcedor sentia o gostinho, embora efêmero, de ver seu jogador em `close-ap´, de tocar-lhe a camiseta, se ele porventura fosse cobrar escanteio. As invasões de campo permitiam ao torcedor carregar Leônidas da Silva após uma vitória consagradora”.