O lixo de Curitiba é uma questão gramatical. De um lado, o secretário municipal do Meio Ambiente, José Antônio Andreguetto, defende a Cachimba com CH. Do outro, Victor Hugo Burko, presidente do Instituto Ambiental do Paraná, é partidário da Caximba com X. Para todo os efeitos, é um impasse gramatical, e não político.

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Não é preciso ter uma usina de compostagem no cérebro para perceber que o chorume desse impasse ambiental é provocado pelo lixo-que-não-é-lixo da política partidária provinciana. O que estamos assistindo são atitudes intolerantes, personalismo sem juízo do que pode acontecer nos próximos meses na região metropolitana de Curitiba, egos determinados a fazer com que apenas os urubus vivam na santa paz de sua própria natureza. E cada cidadão que trate de procurar sua própria Caximba, ou Cachimba. De preferência na praia, porque o lixo das festas de fim de ano não terá outro destino no segundo planalto.

Estamos vivendo a época de ouro da mediocridade. Como fede o chorume do lixo-que-não-é-lixo da política partidária provinciana. E não é de hoje. No seu Diário de um crítico, no dia 21 de janeiro de 1959, o professor Temístocles Linhares, não dos mais afeitos ao futebol, observou que os nossos políticos, com raras exceções, maltratam a bola e ainda se apresentam como ídolos da torcida:

“Nada de promissor se apresenta nesse campo no Paraná, apesar de todo o seu futuro. Pobre de homens, o esquema que se delineia para as eleições daqui a menos de dois anos é deveras angustioso. Quando estará esta rica região brasileira, em relação à política, numa era de verdadeiro espírito público, tendo à frente de seus destinos homens probos e capazes? Não bastam as experiências já feitas para os nossos políticos mudarem de rumo e se compenetrarem de seus papéis? O espírito de aventura, o personalismo, a ambição desmedida os conturbam. Dizem que o que lhes falta é amadurecimento político e patriotismo. Na verdade, a história política do estado é muito pobre. Em confronto, porém, com os homens do passado, os de hoje saem perdendo não só em matéria de qualidade intelectual como de decência e honestidade. O que falta, ao meu ver, é um melhor sentido de paranaensismo. O Paraná está contaminado demais pelo desamor à terra. Explorá-la, sugá-la em suas riquezas, sem nada dar-lhe em troca, é o objetivo dos homens que a governam no presente e traçam os rumos de sua política. Nesse terreno não há ninguém de bom senso que não seja pessimista. É certo que ainda se diz muito por aqui: enquanto os políticos dormem, o Estado cresce e se transforma. Enquanto, porém, não for modificada a mentalidade dos homens, não haverá razão para qualquer crença tranquila e sólida em seu futuro. É preciso que haja na política paranaense um código estável de valores morais para que aos seus quadros retornem os homens “bons’ que ainda se encontram por aqui, à margem da coisa pública”.

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Nos piores venenos, as melhores soluções. Assim sendo, as autoridades competentes devem fazer curso de especialização em Napoli, na Itália.

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Depois dos humores do Vesúvio, a maior catástrofe napolitana é a Camorra, organização não-governamental que tinha a concessão do lixo na cidade. Com as técnicas desenvolvidas pela Camorra, Curitiba poderia ganhar fortunas com o que na península eles chamam de “immondizia”. Está no filme e no livro Gomorra: a máfia do lixo lucra em todos os planos e tem todo o interesse que a crise perdure por séculos, porque ganha bilhões de euros armazenando os dejetos em lixeiras ilegais, em áreas clandestinas e na recolha do lixo, depois jogando a “immondizia” hospitalar e tóxica em vinhedos, onde produzem o que bebem.

Adaptar os métodos da Camorra napolitana para o Paraná é relativamente fácil. Basta o “capo” convocar para a empreitada alguns prepostos habituados a botar a mão no lixo-que-não-é-lixo da política partidária provinciana.