Lixo da realeza curitibana

Descobriram no Rio de Janeiro um depósito de lixo de valor incalculável, tesouro arqueológico com centenas de milhares de peças, incluindo uma escova do imperador Dom Pedro II, que revelam os costumes mais mundanos da elite do século XIX.

No acervo de peças encontradas no lixo da realeza estão restos de cosméticos franceses, água mineral importada da Inglaterra e um frasco de colônia com o curioso nome de “Anti-Catinga”. Pelo nome, podemos deduzir que a principal causa da Revolução Francesa dever ter sido a fedentina das cabeças coroadas. A água-de-colônia teria surgido depois da guilhotina. 

Ao lado de garrafas, pratos e vasilhas de cerâmica, cachimbos com restos de tabaco e potes de porcelana, um dos objetos mais curiosos é uma escova de dentes com cabo de marfim, já sem cerdas, com uma inscrição em francês que diz “Vossa majestade o imperador do Brasil”. Os objetos achados são basicamente lixo, mas têm valor arqueológico muito grande porque revelam detalhes mundanos que se desconheciam até agora. Como em Curitiba, naquela época não existia um aterro sanitário. As pessoas enterravam o lixo no quintal de casa ou pagavam a um escravo para levá-lo a algum lugar.

O lixo da realeza carioca pode servir de exemplo do que as futuras gerações de Curitiba vão encontrar sob as ruínas do Centro Cívico, no próximo milênio. Além da caneta com que foi assinado o contrato com as empresas de transporte coletivo, o maior achado arqueológico estará nos restos da milionária licitação, mais uma vez cancelada, para escolher a empresa que deveria recolher os lixos de Curitiba e Região Metropolitana . Toneladas e toneladas de processos judicias serão encontradas nas catacumbas do Tribunal de Justiça, em perfeito estado de conservação.

O imbróglio judicial do lixo é apenas uma parcela do que as próximas gerações vão desenterrar no Centro Cívico. O maior tesouro arqueológico será o lixo soterrado no Tribunal de Contas, especialmente uma misteriosa latinha de óleo de peroba com as iniciais FC.