Roer de unhas, ranger de dentes e calafrios. Dentro de duas semanas Dilma Rousseff dará a resposta sobre o dinheiro a ser repassado para a prefeitura de Curitiba iniciar as obras do metrô. Com as três malas de projetos na mesa da presidência, são três possibilidades de Curitiba ganhar na mega sena. Na pior das chances, no caso de uma quina, teremos R$ 2 bilhões para botar a cidade nos trilhos.

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Enquanto isso, engenheiros e urbanistas fazem suas fezinhas: fulanos botam fé no VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos), beltranos no BRT(Bus Rapid Transit), sicranos no sonhado BdM (Buraco do Metrô), Jaime Lerner imagina um trem voador sobre os trilhos já existentes e só falta, entre tantos apostadores, o palpite do falecido arquiteto Rafael Dely.

Criador do sistema trinário com as canaletas, Dely sempre pregava que a grande invenção para o sistema de transporte urbano seria o velho e saudoso bonde. No lugar do expresso, ele sonhava com um bonde sobre trilhos, à moda antiga. Além de bem mais barato, o bonde é único sistema a conviver sem conflitos com os pedestres. Dizia Rafael Dely: “O cruzamento do centro pode ser mais seguro com o bonde do que com o ônibus, simplesmente porque o bonde trafega no trilho, não se desloca dele, não tem que ser dirigido como ônibus. Qualquer pessoa pode se colocar a meio metro dos trilhos do bonde e ficar tranquilamente, ali, lendo seu jornal, com a segurança de que o bonde fatalmente passará a 50 cm de distância. Já com o ônibus isto é arriscado, porque o caminho não é rígido, o veículo tem de ser dirigido”.

Em Curitiba, como se sabe, temos dez urbanistas para cada dez habitantes. No Bar do Popadiuk, tradicional reduto de resistentes curitibanos do Bigorrilho, a solução para mobilidade urbana seria a volta da Linha da Caradura, bondes que cruzavam Curitiba em dias de Finados e Carnaval durante o dia inteiro.

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Com um ou dois carros suplementares, a Caradura era atrelada ao bonde, aberto, com bancos únicos em todo o sentido da largura. Chama-se Caradura porque, como a tarifa do bonde já era mais baixa, ainda assim preferir o reboque fazia do passageiro um tremendo cara de pau. Com a tarifa custando a metade da do bonde, era a verdadeira tarifa social: no mesmo percurso, com um pouco menos conforto, quem pouco podia, menos pagava.

Dizia o jornalista João Dedeus Freitas Netto, hoje andando de bonde na Avenida Celestial com Rafael Dely: “O bonde (que saudade!) não era apenas meio de transporte. Era um dos encantos da província”.

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