Despejado do domicílio, o jacaré do Parque Barigui foi jogado no porta-malas de uma viatura da prefeitura e levado ao zoológico de Curitiba. Nas redes sociais da internet, no entanto, ainda existe a suspeita de que o destino do jacaré seria a panela do Bar do Ligeirinho, o único da cidade a servir carne de jacaré e outros bichos.

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No jogo do bicho, jacaré é 15. No Bar do Ligeirinho, jacaré é 40. Por apenas quarenta reais é servido uma generosa porção de meio quilo de jacaré à moda da casa: sal, trigo e fritadeira. Simples assim, esse é o destino dos jacarés que vêm da Amazônia para a cozinha da dona Ida Sofia, a esposa e companheira de trabalho de Ronaldo Abrão, o lendário Ligeirinho.

Desde 1957 a carne de jacaré está no cardápio das casas onde Ligeirinho fez a fama como um garçom “rápido no gatilho”, até chegar a ser dono do próprio nariz de faro fino. O jacaré como prato exótico da “baixa gastronomia” curitibana começou na extinta Cinelândia (nos fundos da Boca Maldita), quando Ligeirinho e o companheiro Víctor viravam a noite para pegar na unha os jacarés de Cacatu, em Antonina. Serra acima amarrados em caixas, os bichos chegavam ainda vivos até o banheiro do bar, onde na manhã seguinte iriam para a faca.

A princípio no Bar Cinelândia, depois no Bar Stuart, até o atual Bar Ligeirinho da Rua Carlos de Carvalho, 120, quase todas as delícias do mundo animal passaram pelas mãos de Ligeirinho: filés de jacarés, caldinho de piranha, testículos de touro, sopas de tartaruga, rã à milanesa, pernil de tateto, porquinho da índia ao forno, costeletas de capivara, paca, tatu, cutia também e as inenarráveis batidas de frutas para acompanhar os abissais camarões que poucos no mundo já viram.

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Hoje o cardápio do Ligeirinho é um tanto politicamente correto, com destaque para as codornas e perdizes, carne de rã, iscas de avestruz, costelinhas de javali e, para os desinformados, o único prato de animal em extinção servido na casa a “carne de onça”.

Ligeirinho defende a permanência dos jacarés no domicílio de origem. Sendo ele um admirador da espécie, garantimos que o papo amarelo do Barigui não vai para a frigideira da dona Ida Sofia. Os aligatores da Amazônia chegam ao aeroporto Afonso Pena congelados em caixas de 50 quilos, embalados em porções de meio quilo, com nota fiscal e carimbo do Ibama. Ao contrário do que a concorrência murmura na Boca Maldita, no Bar do Ligeirinho não servem crocodilos paraguaios.

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