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Com a temperatura amena, sem o frio curitibano de doer nos ossos, na noite de segunda-feira o jornalista Aroldo Murá reuniu no Palacete dos Leões espécimes raras da inteligência paranaense. Num revoar de velhas águias, amigos que há muito não se viam sob um mesmo teto atenderam à chamada do professor.

Aroldo Murá não se considera da espécie gregária. Porém, no lançamento de livro Vozes do Paraná, constatou-se que ele assim não se avalia por modéstia. Uma modéstia mal disfarçada, diga-se, porque o professor estava com o pé que era um leque, bem faceiro com a respeitável fila de autógrafos do tamanho de três horas.

Os textos da antologia, originalmente publicados na revista Idéias, poderiam ser chamados de perfis “se trouxessem apenas dados biográficos de pessoas que se destacaram nas suas áreas de atuação”, segundo a “orelha” do jornalista Márcio Renato dos Santos. Mas são muito mais. Além dos fatos biográficos, o olhar de Aroldo Murá traça dos paranaenses um retrato “atento, culto, perspicaz e conhecedor dos caminhos e descaminhos disso que se chama experiência humana”.

De A a W, 32 paranaenses foram contemplados com o olhar do professor Aroldo. Este, por sua vez, foi contemplado com a presença de 350 amigos que há muito não se reuniam sob o mesmo teto. Velhas águias da imprensa, principalmente, espécimes de quem Aroldo foi professor ou aluno, se agregaram às águias do serviço público, economia, indústria e comércio, de quem o jornalista chegou a ser oráculo. Na mesma revoada, ainda, os doces pássaros da juventude, representados pelos tantos afilhados que Aroldo adotou com generosidade, como se fossem os filhos que não teve. E sem esquecer do sobrevôo Dele, o Todo Poderoso que enviou alguns de seus representantes para abençoar o agregador do Instituto Ciência e Fé. Nome por nome, ai de quem esquecer um só nome presente no Espaço Cultural do BRDE, o Palacete dos Leões. Nome por nome, melhor recordar alguns bons momentos de algumas das 32 Vozes do Paraná.

João Dedeus Freitas Neto, por exemplo o maior exemplo. Médico e jornalista, uma mistura deste com aquele, de Freitas Neto veio um momento pinçado no inesgotável fabulário das redações:

“Era uma regra enunciada por Freitas, ao prelecionar seus repórteres e redatores sobre concordância verbal e nominal:

– A primeira regra é concordar com o secretário de redação.

No caso, ele, Freitas”.

Jorge Samek, “senhor da energia e dileto de Lula”, quem diria? O jovem namorava com as músicas de Roberto e Erasmo Carlos, tinha um carro vermelho e não usava espelho pra se pentear: “Quando começou sua vida profissional no final dos 70, Samek desfilava num esportivo Puma vermelho, que logo ficou conhecido na Curitiba de pouca diversidade de marcas de carros”. Que a oposição ao petista não se assanhe, posto por Aroldo que o bom burguês não era bem assim: “Não chegava a ser um playboy, desfrutava das folgas materiais da família. Mas sem exageros, garante um companheiro de mocidade de Samek, para quem ele já mostrava uma forte inclinação pelos temas políticos”.

De Jamil Snege, de quem Aroldo Murá era amigo e confidente, foi raspada a pátina. Por trás do verniz do publicitário bem sucedido, o verdadeiro retrato de um rico poeta pobre: “Todos suspeitávamos que o Jamil tivesse poupança, dinheiro guardado, grandes aplicações. Quem sabe, até investimentos num paraíso fiscal (nada demais, desde que declarado ao IR). Nada disso, morreu pobre, sem pensão, sem aposentadoria, sem pecúlio. Mas fez o sucesso de não poucos”.

O mesmo se pode dizer de Aroldo Murá Gomes Haygert, um gaúcho que se tornou paranaense de criança. Aos 68 anos, depois de mais de  40 anos de brilhante vida profissional, muitos suspeitam que o professor tenha investimentos num paraíso fiscal, alguma poupança no colchão. Hoje com uma aposentadoria modesta e, mesmo assim, trabalhando para sustentar as exigências do espírito, lhe restou uma admirável coleção de obras de arte, somada à fortuna de possuir tantos amigos.