Lições de um engraxate

A história teria se passado com o escritor Paulo Francis, enquanto lustrava os sapatos e fazia um discurso contra o comunismo. O engraxate, compenetrado na dissertação de Francis, passou sua flanela na conversa: “Doutor, deixa vir esse tal de comunismo, a gente avacalha com ele!”.

A frase não deve estar com todas as letras, que a fiação da memória já está prejudicada, mas, em suma, o que o engraxate carioca bem expressou é que, de um jeito ou de outro, avacalhação é com a gente mesmo.

O PT, último moicano da ética, foi avacalhado por um flanelinha careca que engraxou os coturnos e os bolsos do mais alto escalão da República. Por conseguinte, a televisão mostrou ao vivo a avacalhação do Supremo Tribunal Federal, onde o comportamento ético de certos senhores não estaria à altura da sala de visitas da falecida Otília, cafetina da mais alta distinção e fidalguia que muito brilho emprestou à obra de Dalton Trevisan.

Avacalhado pela imprensa canalha, Zé Dirceu não merece um linchamento público, assim ele afirma. Merece mais do que isso. Prócer da esquerda funcionária, é um personagem que já fez por merecer um plebiscito ou referendo, subterfúgios tão a gosto do governo. Afinal, devemos perguntar ao povo brasileiro, os mensaleiros merecem ou não merecem os embargos infringentes?

E no meio desse banzé a presidenta Dilma foi se queixar à ONU, já que não são boas suas relações com o bispo. A rede global de espionagem eletrônica “é uma intrusão, uma afronta à privacidade dos brasileiros”, disse a presidente a Nova York. Ora, dona Dilma! Siga o conselho do engraxate do Paulo Francis: se eles entrarem no nosso Facebook, vão sair avacalhados!  

Os médicos cubanos precisam ser convocados para remediar a saúde pública no Brasil? – eis outro tema para uma consulta popular. Que venham todos, inclusive o geriatra de Fidel Castro – diria o engraxate. Eles vão conhecer o que é a mais perfeita avacalhação num hospital público lá nos cafundós do Maranhão. O médico brasileiro não é um avacalhado. Avacalhado é o Sistema Único de Saúde (SUS).

Seria injusto generalizar, a avacalhação ainda não tomou conta da nação. Alguns setores são simplesmente uma barafunda, outros um descalabro, senão uma mixórdia, quase sempre um caos. Há quem diga que o brasileiro, para suportar tanta esbórnia, além de forte é um pândego. Traquinas ou travesso, tanto faz, a verdade é que só mesmo com o espírito galhofeiro o povo brasileiro consegue sobreviver em meio a tantas avacalhações. O engraxate do Paulo Francis que o diga.