Levianas e vivandeiras

Dias antes das eleições, numa palestra ao lado da ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda, o escritor Deonísio da Silva havia alertado que Aécio Neves poderia tropeçar na própria língua – e nas pesquisas – ao chamar Dilma Rousseff de “leviana”. Segundo o filólogo Deonísio, o tucano “ignorara que a palavra pode ser entendida como prostituta no Nordeste, e que, portanto, representara ofensa que o Lula rapidamente soube explorar, ao amplificá-la e recriminar seu uso. Imediatamente a mídia passou a mostrar trechos de debates em que o ex-presidente chamava o opositor de leviano. MAS NO MASCULINO! E isso fazia toda a diferença. Estes detalhes são decisivos para quem usa a língua portuguesa como ferramenta de trabalho, como é o caso de quem atua na política”.

Nas próximas eleições, como também sugeriu o escritor Ruy Castro, não será suficiente contratar um marqueteiro: “Será preciso contratar também um linguista para repassar com o candidato os pontos principais de sua argumentação e certificar-se de que nenhuma palavra se constituirá numa involuntária gafe regionalista, passível de exploração política”.

Neste caso, nas próximas eleições Deonísio da Silva já pode contar com um contrato garantido, pois os candidatos vão precisar saber da viagem que as palavras fazem ao longo da história. Se no Nordeste o feminino “leviana” é o equivalente ou próximo de sirigaita, no sul do Brasil os deputados e senadores serão conhecidos como “vivandeiras” da base governista.

Desde a Guerra do Paraguai, “vivandeiras” eram as mulheres que seguiam na rabeira do Exército brasileiro. Mulheres velhas de guerra, tomavam suas posições na retaguarda para acompanhar a soldadesca. Além das tarefas no leito, as “vivandeiras” serviam na cozinha e cuidavam dos feridos. No pleno combate, juntavam as crianças e se protegiam na brenha do mato.

Os soldados cavavam trincheiras, as “vivandeiras” armavam as camas. Quando a tropa fazia prisioneiros, eram as “vivandeiras” que faziam o serviço macabro, davam fim aos acorrentados. Em troca, tinham seus privilégios: antes da degola, as pobres damas faziam um sorteio para saber quem seria a mulher a deitar com o inimigo para uma noite de sexo, o derradeiro suspiro de amor; e depois matá-los a golpes de facão.

Nos estertores da ditadura militar, quando perguntavam ao presidente Ernesto Geisel se as greves lideradas pelo metalúrgico Lula poderiam provocar problemas com os militares e prejudicar a escassa liberdade que a lenta e gradual procurava assegurar, o general respondia: “Não, mas as vivandeiras que rondam os quartéis virão insuflar a área militar”.  

A “presidenta” Dilma precisa se precatar. Com o fim da guerra eleitoral, as “vivandeiras” da base aliada já fazem fila na retaguarda para a ocupação dos ministérios!