Lerner entre a bela e a fera

Jaime Lerner está para lançar em breve um livro com suas melhores frases. A coletânea, recolhida de palestras, discursos, textos diversos, dos caderninhos de viagens e até de guardanapos, virá com uma sentença sobre o metrô de Curitiba: “Estão nos prometendo a Angelina Jolie, mas vão nos entregar a Graça Foster”.

Entre a bela e a fera, as mais de 300 pessoas que na terça-feira passada foram assistir a palestra do nosso ex-prefeito saíram do Pátio Batel convencidas de que, por enquanto, o buraco do Metrô mais palpável da cidade ainda é aquela casa noturna, com o mesmo nome, no sub solo da Visconde de Nácar. Sobre o Metrô que pretendem nos entregar e o Metrô que vamos receber, disse Jaime Lerner:

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“A verdade dos fatos é que querem instalar em Curitiba meia linha de metrô, a um custo de 9 bilhões de reais, numa obra que é inviável. Querem trocar um sistema completo por meia linha de metrô. Querem nos vender a Angelina Jolie e entregar a Graça Foster (gargalhadas da plateia). Metrô era uma boa solução quando foram construídos nas grandes capitais do mundo, há 150 anos, porque era barato enterrar e os trilhos eram a tecnologia da época. O metrô de Londres, que é imenso e completo, transporta 3 milhões de pessoas por dia, nossos ônibus expresso 2,6 milhões, numa cidade menor, a um custo de implantação e de operação infinitamente menor. Claro que tem que melhorar e acredito que Curitiba vai inovar em urbanismo em breve, com uma solução para o transporte urbano que o mundo todo irá copiar. O que precisamos é aprimorar o sistema sempre. E penso que há soluções usando o traçado ferroviário que Curitiba já tem dentro da cidade, com soluções elevadas e integrando a Grande Curitiba. Nunca pensar em reduzir a integração metropolitana, como está ocorrendo”.

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Dos mais atentos, o publicitário João José Werzbitzki anotou as ideias do urbanista. Não só para reviver seus tempos de repórter do Diário do Paraná, como também para usar os argumentos como base para julgar os próximos candidatos a prefeito de Curitiba.

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“Para um povo respeitado, com transporte urbano de qualidade, que atenda bem às suas necessidades, a tarifa é uma questão de decisão política. Sou um otimista e estou otimista com o futuro do transporte urbano de Curitiba e região metropolitana – pois uma depende da outra. Não podemos ter medo do simples, como solução para os problemas. Temos que abater a chineladas os vendedores de complexidade. Curitiba é uma cidade de vanguarda, há décadas, e vai continuar sendo. No México vi uma placa que dizia: ‘Mais vale a graça da imperfeição do que a perfeição sem graça’.”