Lendas urbanas

Neste episódio das empresas de radares que estão sendo investigadas por supostas fraudes, impressiona a situação do diretor comercial da Consilux, Heterley Richter Jr. Depois de afirmar que é possível negociar até 5% do valor do contrato como propina e admitir que “já anulou multas em Curitiba”, Richter foi afastado da empresa e, ao ser procurado pela imprensa, disse que sua demissão teve impacto devastador em sua vida: “Foi uma tragédia. Sou pai de dois filhos que estão sofrendo muito”.

Não é função do cronista, e da imprensa, prejulgar quem quer que seja. Caberá agora à Justiça, depois dos devidos trâmites no Ministério Público Estadual, apontar os culpados. Mas desde já salta aos olhos do leitor que, da “máfia dos radares”, Heterley Richter Jr foi previamente condenado. E o que é mais trágico: aos olhos dos próprios filhos, será que algum dia ele vai conseguir se redimir da confissão feita a uma câmara oculta?

Apesar de tudo, consternados desejamos que a família Richter se recupere da tsunami que a devastou. O mesmo não é possível esperar para as supostas “máfias de radares”, pois mesmo que as investigações venham a comprovar total isenção das empresas acusadas, na opinião pública sempre vai prevalecer o que há muito corre no imaginário popular das lendas urbanas.

A “desmiolada” confissão do diretor-comercial da Consilux à câmara oculta do Fantástico só é “mentirosa” para as empresas responsáveis pela espionagem urbana. Para aqueles que propagam as lendas urbanas, a confissão de Heterley Richter Jr é pura verdade, nada mais do que a comprovação do que se murmura na esquina, do que está na boca do povo.

Desde o primeiro “pardal” instalado no trânsito de Curitiba, diz a lenda urbana que, como tudo no Brasil, até para um sofisticado sistema informatizado de fiscalização “tem um jeitinho”. É a lenda urbana. Basta perguntar por aí, sempre vamos encontrar a “prima de um primo que é casada com um funcionário que por suas vez é amigo de outro funcionário que sabe de um esquema da máfia dos radares que consegue apagar qualquer multa a troco de um dinheirinho para a cerveja”.

A mesma lenda urbana que conta histórias de arrepiar os cabelos na Assembleia Legislativa. Coisas do arco da velha, lendas dos tempos do Aníbal Curi. Tão escabrosa quanto a “indústria da multa”, a “indústria de aposentadorias” da Assembleia contratava um apadrinhado por cinco dinheiros e no dia seguinte aposentava por dez vezes mais dinheiros.     

Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay!”. Nós não acreditamos em lendas urbanas, mas muitas delas são verdadeiras. Os filhos podem desacreditar de Heterley Richter Jr. Mas será que o pai faltou com a verdade?

O prefeito Luciano Ducci botou fé nas palavras de Richter. Tanto que cancelou os contratos da Prefeitura com a Consilux.