O animador de velórios dos Campos Gerais passou o final de semana em Curitiba. Chegou quinta-feira passada, 5 de março, convocado para o carneiro do aniversário de Roberto Requião: “Mais quente que Curitiba estava o inferno astral do governador”, contou o Jaguara, que naquele dia teve a missão de animar a festa na Granja do Canguiri.

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De fato, no dia 5 de março o inferno astral do governador chegou à sua temperatura máxima: como se não bastassem os rotineiros processos contra o irmão Eduardo, dona Maristela também caiu na malha fina da promotoria e o irmão Maurício foi catapultado outra vez do Tribunal de Contas.

– Me atipei com o Requião. Com ele é assim: me chama que eu vou! Dessa feita, foi com a maior satisfação que me larguei de Guarapuava para animar a festa de aniversário no Canguiri. E ainda trouxe uns borregos na guaiaca.

– Nos parece que animar uma festa de aniversário é bem mais difícil do que animar um velório.

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– Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mas devido ao baixo astral da ocasião, o clima estava parelho. Usei a técnica de sempre. Sabendo que o governador estava querendo ver o Judiciário esticado numa cova rasa, comecei contando uma piada de advogado: certo dia um dentista morreu e, por erro do Centro de Processamento de Dados do céu, o mesmo foi parar no inferno. Chegando lá, começou a trabalhar e deixou os diabinhos com a boca em ordem. Mas a alegria do Satanás danado durou pouco. Logo recebeu um e-mail do céu informando o erro. O diabo então disse que não iria devolver o dentista, pois o trabalho dele era maravilhoso. Então Deus disse:

– Olhe aqui, Satanás. Eu vou tomar minhas providências no Supremo Tribunal.

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O diabo não se intimidou e respondeu:

– Quero ver onde você vai encontrar um advogado!

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A piada fez o maior sucesso, contou o animador de velórios dos Campos Gerais.

– O governador rolou de rir. Mandou liberar a adega de vinhos e eu servi a primeira paleta de carneiro.

– Pela reação, a cisma dele com o Judiciário é uma enormidade! Principalmente com o Supremo Tribunal Federal!
– Demais da conta, e de modo geral: juiz, desembargador, promotor, advogado, o diabo! O homem acha que a Justiça não é cega e tem que ser tratada no relho.

– Aí então você contou outra de advogado?

– Não! Depois me lembrei de uma velha história que ouvi do meu falecido amigo Oney Barbosa Borba. Historiador dos Campos Gerais e grande contador de causos, o Barbosa Borba dizia que o bairrismo da gente de Castro era o mais extremado do Paraná. Lá tinha um camarada chamado José da Ribeira que, quando nasceu o primeiro filho, em homenagem à terra deu-lhe o nome de Castrito. O segundo chamou-se Castrozinho. A caçula, menina, foi registrada como Castrolanda. E não ficava só na família: o cachorro era Iapó, a gatinha era Iapoleta e o papagaio só atendia pelo nome de Castroso. O melhor queijo do mundo era o de Castro e o rio mais piscoso do Paraná era o Iapó.

– E qual foi a outra do Barbosa Borba que você contou para o governador?

– A história do Chico Buzina. Subdelegado de Tibagi, ele entrava a cavalo em salas de baile, fincava as esporas da paleta à virilha do matungo e o fazia corcovear. Chico Buzina sabia fazer justiça. Quando em 1945 a criminalidade em Tibagi era de assustar, Chico Buzina dizia ao Barbosa Borba:

– Não é nada, parente, o povo daqui é até muito bom. Nas grandes cidades os crimes são complicados. Matam-se, ferem-se todos os dias e vocês não sabem a causa. Botam na cadeia o sujeito e a justiça se satisfaz. Aqui não. Desde que sou subdelegado, só conheço três tipos de crimes. Se um briga, quebra a cabeça, ou fura a barriga do outro, logo descubro a causa. Não é preciso auxílio de bacharel. Vou direto às raízes: ou é cachaça, ou é porco, ou é mulher!

Jura o animador de velórios dos Campos Gerais, o Requião se debulhou na gargalhada.