Latinorium para Copa

Considerando que na Copa do Mundo quase todos os idiomas do mundo estarão circulando pelas ruas, cada um se vira como pode para faturar uns trocados. No Rio de Janeiro, por exemplo, enquanto alguns espertinhos estão inclusive aprendendo a assobiar em francês, as prostitutas de Copacabana recebem aulas de inglês em pleno calçadão de Copacabana, onde grupos de senhoritas conjugam o verbo “to be” acompanhados de um professor.

Do francês ao inglês, passando pelo catalão de Barcelona, num estalar de dedos se apresentam professores para qualquer idioma. Menos para o latim, o idioma oficial do Reino dos Céus. Ou alguém acha que só os vivos – muito vivos! – gostam de futebol? “Stat sua cuique dies”, cada qual tem o seu dia marcada e que nesse dia ninguém se despeça desprevenido. Por pura cautela é preciso aprender também o “latinorium”, pois o céu há de ter algum boteco com uma televisão transmitindo os jogos da Copa do Mundo.

Portanto, a cena seguinte não é uma coisa do outro mundo:

Num bar de Curitiba, o jovem estrangeiro tomando caipirinha e lendo poesias do Paulo Leminski. Na mesa ao lado, um senhor de conservados oitenta anos, bebendo café e estudando latim. Convenhamos, um ancião estudando latim em Curitiba não é lá tão curioso quanto possa parecer. Mas todo jovem é curioso.

– Perdão por incomodar, gostaria de saber por que o senhor está estudando latim, agora nesse estágio da vida?

– Elementar, meu caro jovem. Como você bem observou, por que estudar uma língua morta, à beira da morte? Eu venho de longe, já atravessei Adolf Hitler, campos de concentração, Hiroshima e Nagasaki, o Vietnã e George W. Bush. Se estou estudando latim é porque sou um velho prevenido. Quando partir desta para a melhor, quero sentar num boteco já falando perfeitamente a língua local. No paraíso, todos falam latim: o Todo-Poderoso, os anjos e todos os santos.

– Caro senhor, o inferno não seria uma possibilidade a se considerar?

– Perfeitamente! Levando em conta o infortúnio, sem nenhum problema: falo fluentemente inglês e alemão!

“Hic jacet lepus”, aqui está a dificuldade: até mesmo os mais eruditos latinistas teriam dificuldades em verter para o latim expressões futebolísticas, muito usadas nos botecos. “Rebus sic satanbus”, nessas circunstâncias fui buscar no meu livro “Botecário – Dicionário Internacional de Boteco” algumas das palavras e frases frequentes entre torcedores: Salve, velho amigo! –Ave, Senex! / Então, bebamos! – Ergo bibamus! / Saúde! – Prosit! / Pode nos servir! – Alea jacta est! / Essa é pro santo! – Permitte divis cetera! / Mais uma rodada! – Pro tempore! / Acabei de jantar – Plenus venter! / O garçom é ligeirinho! – Hic et nunc! /  A saideira – Nil amplius oro! /  Vamos dividir a conta! – Per capita! / A conta, por favor! – Ad valorem! / Aqui é muito caro – Ad absurdum! /  Pendurar a conta – Ad calendas graecas!