Depois que o escritor Mario Vargas Llosa escreveu “Pantaleón y las Visitadoras”, a ficção se tornou realidade na maior hidrelétrica do mundo. No livro, o capitão Pantaleão Pantoja fornece damas de companhia aos soldados. Em Itaipu, um soldado tornou-se empresário para atender ao clamor do sexo dos barrageiros.

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“Las visitadoras” vem a propósito do lançamento do livro Itaipu – Integração em Concreto ou uma Pedra no Caminho (Editora Amaralys, 196 páginas, R$ 49,00) que o jornalista Tão Gomes Pinto lança nesta semana em São Paulo. Nele, o jornalista conta os fatos que levaram o Brasil e o Paraguai a assinar o Tratado de Itaipu, tão questionado agora, e um balaio de histórias sobre a construção dessa que é uma das maiores hidrelétricas do mundo.

Por certo Tão Gomes Pinto não escreveu uma obra com o clima lascivo da floresta amazônica peruana de Vargas Llosa, onde o capitão Pantaleão Pantoja, marido exemplar, militar obediente, se ocupa da criação de um “serviço de visitadoras” (prostituição institucionalizada) para aplacar os clamores sexuais da tropa, duplamente atacada pela falta de mulheres e pelo calor úmido da selva.

Se não existe pecado abaixo do Equador, a libidinagem também regalou as criaturas do sudoeste do Paraná: Foz do Iguaçu, Cascavel, Marmeleiro e Francisco Beltrão, lá onde começou a história das visitadoras de Itaipu.

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Na década de 70, Francisco Beltrão assistiu a um embate político digno da obra de Mario Vargas Llosa. De um lado da praça o vigário, que queria expulsar do município a zona do meretrício. Do outro lado da praça, o prefeito e os partidários da zona do meretrício como de utilidade pública.

Depois de muita briga e bate-boca, o litígio subiu ao púlpito da Matriz, quando o vigário acusou um proeminente deputado federal de ser, junto com o prefeito, sócio atleta do sodalício sexual. Com os votos da Liga das Senhoras Católicas e da Congregação Mariana, o pároco ganhou a questão e a zona foi obrigada a se transferir, de plumas e paetês, para a cidade vizinha de Marmeleiro.

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Nos momentos de crise é que surgem os grandes negócios.  E foi o que aconteceu com um soldado do quartel de Francisco Beltrão, um alegre jovem de fino faro para os negócios correlatos à devassidão.

Carlinhos Viado, esse era o nome do soldado que viu, na expulsão do prostíbulo de Chico Beltrão, a oportunidade de criar em Marmeleiro uma casa de tolerância nunca vista no sudoeste. E foi assim que Carlinhos Viado iniciou, com a ajuda de um sargento “muy amigo”, a rede de boates La Piova. Precursora do Mercosul, pois naqueles salões à media luz da La Piova se apresentavam dançarinas do Uruguai, Argentina e Paraguai, além daquelas felinas oriundas do Pantanal.

De Marmeleiro, Carlinho Viado ganhou a freguesia de Cascavel e outras cidades, até chegar a Foz do Iguaçu.

Sorte é estar no lugar certo, no momento certo. Bem onde Carlinhos Viado estava, ao abrir a boate La Piova na tríplice fronteira, justamente no momento em que os barrageiros de Itaipu se encontravam naquela situação de abstinência dos soldados do capitão Pantaleão Pantoja: carentes de amor, duplamente atacados pela falta de mulheres e pelo calor e umidade das Cataratas do Iguaçu.

Uma das alavancas do progresso, Carlinhos Viado foi testemunha da história: a maior hidrelétrica do mundo foi construída com os recursos de fora. Principalmente, com os atributos femininos que os aviões do Rio de Janeiro e São Paulo traziam semanalmente para a clientela “vip” do La Piova. Com empresárias (cafetinas, digamos) estabelecidas em Copacabana e Ipanema, Carlinhos tinha no cadastro um plantel que abrangia as capas de todas as grandes revistas masculinas do Brasil. Nos finais de semana os hotéis de cinco estrelas lotavam, os barrageiros trabalhavam bem felizes e assim também foi construída Itaipu: com las Visitadoras do Carlinhos Viado.