Jesus globalizado

Às vésperas do Natal, o Animador de Velórios dos Campos Gerais deixa um recado com sua secretária eletrônica e, de cuia e sem celular, vai passar o fim de ano em Matinhos. A secretária eletrônica do Jaguara é a prima Ivonildes, que atende as chamadas do vizinho:

– Seu Jaguara está em recesso. Velórios só em janeiro, quando recomeçarem as investigações da Petrobrás.

Não que lhe falte repertório para animar um guardamento, sem perder o espírito natalino. Sempre que foi convocado, deu conta da triste missão contando que em qualquer rincão deste planeta Jesus é sempre o mesmo. O que diferencia um Jesus do outro é que as criaturas sempre fazem questão de afirmar, com provas e argumentos, que o Nazareno tenha nascido em seus respectivos países.

Um bom exemplo são os cubanos, justamente agora que a família Castro entregou os betes para os imperialistas americanos. Se perguntarem para o comandante Fidel – sugere o Jaguara -, ele explicará (durante duas horas) por que Jesus é cubano:

– Na crucificação, Jesus preferiu tomar um litro de fel em vez de um gole de Coca-Cola! Judas são os cubanos que fogem para Miami a bordo de uma canoa. Jesus cubano não precisa disso, atravessaria o Golfo do México assim como atravessou o Mar Morto. Mas agora que restabelecemos relações com Barack Obama, vocês vão ver: nosso Jesus será recebido em Nova York como um rei, assim como se fosse em Jerusalém.  

Por outro lado, pergunta o Animador de Velórios, sabe por que os gringos dizem que Jesus nasceu em Hollywood?  Porque era o rei dos reis, marchava até sobre as águas e, para multiplicar os pães, inventou o xerox.

No mais, o Jaguara tem uma lista de nacionalidades atribuídas ao Rebento de Nazaré.
   Jesus turco: assumiu os negócios do pai, viveu em casa até os 33 anos, tinha certeza de que a mãe era uma santa e a mãe tinha certeza de que ele era Deus.

Jesus irlandês: nunca foi casado, nunca teve emprego fixo e o último pedido dele foi uma bebida.

Jesus italiano: falava com as mãos, tomava vinho em todas as refeições e trabalhou no comércio.
Jesus francês: nunca trocava de roupa, não lavava os pés e não falava inglês.

Jesus espanhol: furioso com os vendilhões do templo, abordava qualquer Madalena e era fanático pelos Reis Magos.

Jesus paraguaio: simplesmente porque até hoje desconfiam que o Santo Sudário é falso.
Jesus alemão: o que falava pouquíssimos entendiam, tinha olhos azuis e sempre foi vaiado pelos italianos de Roma.

Jesus português: podia ter nascido numa ilha paradisíaca, mas escolheu um deserto, bebeu fel achando que era vinho branco e aceitou Judas pra sócio.

Deus na Argentina é o Maradona. Assim sendo, até o papa Francisco reconhece que Jesus é brasileiro: ele nunca tinha dinheiro, vivia fazendo milagres e se ferrou nas mãos do governo.
Quanto ao Estado em que Ele nasceu, há controvérsias.

Jesus gaúcho: aquele cabelão era muito usado na fronteira, sempre tinha razão, falava grosso e usava um poncho.

Jesus catarina: nasceu na terra santa, vivia pescando de tarrafa com os amigos e era “a coisa mais querida, viste?”

Jesus mineiro: porque morreu antes da posse, uai!

Jesus paulista: botou todos os apóstolos no primeiro escalão da igreja, era podre de rico em ouro, mirra e incenso e construiu um “igrejão”. Além do que, a exemplo do Lula, em São Paulo qualquer um pode virar Messias.

Jesus baiano: não pegava no batente, só vestia mortalha e quando nasceu fizeram um carnaval que dura até hoje.