No começo do ano, quando o tomate ainda não tinha mostrado suas garras, o “Financial Times”, um dos oráculos do mundo das finanças, ironizou num artigo o “jeitinho brasileiro” aplicado à economia. Numa prova que o “jogo de cintura” do brasileiro é mundialmente conhecido, o jornal britânico chegou a apontar o ministro da Fazenda, Guido Mantega como um mestre em jeitinhos.

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Para os ingleses estranhos ao termo “jeitinho”, o Financial Times explicou em detalhes o hábito brasileiro de substituir regras ou convenções por táticas altamente criativas e beirando a ilegalidade. O jornal só não disse que o Brasil não tem jeito, tem jeitinho. E que essa malandragem pode ser tanto municipal, quanto estadual, federal ou privado.

No jeitinho federal, dois mais dois sempre somam cinco e, em se tratando de imposto, é oito ou oitenta. No jeitinho federal, quando o candidato eleito promete tomar providências no primeiro minuto, da primeira hora, do primeiro dia, esqueça. Aguarde a campanha pela reeleição.

O jeitinho estadual tem a mesma característica, mas tudo é debitado à conjuntura federal. Pode faltar dinheiro para investimentos, mas não podem faltar palavras: “Os recursos do cofre estadual e a alocação de verbas preventivas estão perfeitamente equilibrados, mas a conjuntura indica a falta de retorno tático compatível como a principal causa da situação a que chegou o governo federal”.

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O jeitinho municipal é mais simplório. Normalmente, até padeiro sabe que o prefeito, bem mais sincero, vai comer o pão que o diabo amassou. Entretanto, o cidadão pode morrer ao cair num buraco da calçada, mas sempre tem um jeitinho: “Cidadão preenche lacuna da municipalidade”, divulga o assessor de imprensa.

 E estamos conversados, porque, noves fora, quem há de ter responsabilidade fiscal quando a prefeitura não tem verba nem para pagar o fiscal?

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As empreiteiras que vivem de aditivos também têm o seu jeitinho de ser. Para sobreviver, precisam arrumar jeitinhos para escapar dos jeitinhos federais, estaduais e municipais.

O Financial Times só não explicou aos seus leitores como funciona a metrologia brasileira, principalmente quanto às percentagens: Tudo = 100%; Tudinho = 95%; Quase tudo = 90%; Um bom pedaço = 85%; uma boa parte = 80%; / Meio = 60%; Metade = 40%; um naco = 15%; o de sempre = 10%; Quase nada = 5%; Nadica de nada = 2% ; Uma titiquinha = 1%; ou simplesmente uma “beirada”.