O jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues dizia que a televisão matou a janela. “Pero que si, pero que no”, ao menos aqui em Barcelona a janela exprime uma paixão que nem mesmo a televisão consegue fixar tão bem: por onde se anda, as janelas mostram a paixão da Catalunha por sua bandeira – também conhecida como “senyera” – em catalão, e “señera” em castelhano.
Com o fundo amarelo, quatro barras horizontais de cor vermelha e um triângulo azul com estrela branca de cinco pontas, a “senyera” é acima de tudo o lábaro (como diz o nosso hino nacional) dos separatistas da Catalunha, da Barcelona “arriba” da Espanha.
Da mesma forma que falam o catalão para exprimir o forte sentimento autônomo da região, os catalães também usam as cores de sua bandeira para vestir com orgulho a camisa Futbol Club Barcelona. E com bravos antecedentes históricos: depois da guerra civil espanhola, as bandeiras do clube eram usadas pelos separatistas com o propósito de enfrentar a ditadura do generalíssimo Franco. Parafraseando Nelson Rodrigues, era a república de chuteiras.
Agora envergando como segundo uniforme as cores da bandeira da Catalunha, o primeiro é o azul e grená, os torcedores do FC Barcelona são conhecido pelo apelido de “culés”, um palavrão em catalão. Como o estádio de origem era muito pequeno, nos dias de grandes jogos os torcedores mais que lotavam as arquibancadas, e, quem passava do lado de fora, via apenas a “bunda” da galera.
Dentro ou fora de campo, a paixão de Barcelona por suas cores é a mesma, cantada em verso e prosa na língua catalã. Um orgulho que não arrefece. Mesmo agora, quando os rivais de Madrid cantam vitórias, a Catalunha não deixa de se embandeirar, enquanto nas “ramblas” (calçadão) ou nos “barrios” (bairros) a pergunta não fica sem resposta:
– Real Madrid ou Atlético de Madrid, quem há de ganhar? Que vença o pior!