Já pra casa!

Sexta-feira passada, Dia da Empregada Doméstica, esta coluna foi dedicada ao ?trabalhador doméstico?: aquele profissional que faz do próprio domicílio o local de trabalho. Com vantagens e desvantagens, o home office é uma das alternativas para melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades.

André Brick é publicitário e designer gráfico. Há quatro anos trabalha em casa e, entre uma e outra incursão à geladeira da cozinha, não tem do que reclamar do seu escritório, doce lar: ?Nunca fui tão feliz, produtivo e – por que não me gabar – ecológico. Sou tão fã do meu ?home office? que possuo um blog (www.gohome.com.br) com dicas e macetes para quem quiser começar o seu. São primeiros passos para convencer os outros a fazerem esta inteligente migração?.

No blog, André relata não só o que se passa dentro de seu escritório, extensão de um florido quintal no bairro do Bigorrilho. Conta também do que se passa no outro lado muro: ?Antes que a Marina, minha mulher, também montasse seu próprio home office, ela pegava o carro todas as manhãs para ir trabalhar, enquanto eu me despedia da porta de casa. Um dia nosso vizinho – um velhinho polonês – viu aquilo e achou graça:

– Mas tá tudo ao contrário?! Ela trabalha e você fica em casa?

E como eu não podia deixar passar a chance de confundir ainda mais a cabeça dele, falei:

– Pois é seu Eugênio… Agora desculpe, mas eu tenho que entrar para fazer o almoço e tô com uma pilha gigante de roupa para passar…

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Àqueles que ainda relutam em jogar fora o relógio despertador e criar um horário de trabalho próprio, André Brick fornece estatísticas encorajadoras: nos Estados Unidos, em 1979, 4,1 milhões de pessoas já trabalhavam em empresas com sede em casa; e um em cada dez americanos trabalhava para uma das 500 maiores empresas citadas na revista Fortune; segundo a Receita norte-americana, de 1979 para cá, cerca de 43 milhões de empregos sumiram do mapa, enquanto empresas de uma só pessoa não param de aumentar; entre 16 e 25 milhões de americanos trabalham como autônomos ou freelancers; mais de 93% das pessoas que utilizam suas casas para trabalhar dizem que apreciam a escolha.

Para aqueles que não gostariam de abandonar completamente as tradicionais divisórias do velho local de trabalho, André reforça a tese de que é possível conciliar qualidade de vida com as exigências do mercado de trabalho tradicional: nos EUA, um trabalhador em cada três trabalha em casa mais de um dia por semana – entre empreendedores e empregados que podem usar suas residências como base de trabalho. A proporção na Inglaterra é de uma pessoa a cada quatro, e existem cerca de 6 milhões de ingleses trabalhando de suas casas. Na Europa, são mais de 20 milhões de home offices e cerca de 30 milhões de profissionais que atuam de casa.

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Tudo na vida tem um porém. No reverso das vantagens – qualidade de vida, maior proximidade com a família, alimentação mais saudável, redução de problemas no trânsito, economia com alimentação e transporte – André Brick ressalta os desafios: perda de privacidade pessoal, possibilidade de excesso de carga de trabalho, indefinição de horários entre trabalho e lazer, a interferência de assuntos familiares na rotina de trabalho, a tendência ao isolamento social, e, num lapso, o perigo de atender o cliente com as pantufas nos pés.