Ítaloeclesiásticogauchesco

Essa quilométrica palavra só existe no dicionário do sul do Brasil. No entender do falecido publicitário Sérgio Mercer, esse é idioma falado por quem é descendente de italiano, estudou no seminário e tem origens gauchescas. É o caso do professor Eugênio Stefanello, professor da UFPR e doutor em economia agrícola.

A pronúncia do Stefanello é a propósito de uma questão levantada pelo jornalista Aroldo Murá, a partir de uma coluna do jornalista político André Gonçalves, onde o correspondente da Gazeta do Povo em Brasília observa que “o sotaque curitibano de Gleisi causa uma certa irritação em seus interlocutores. Irritação ou coisa parecida. Mas por quê? A resposta deve comportar outras análises, mas o bom é que nossa poderosa ministra, bonita e charmosa, não está nem aí, mantém-se firme na conquista que vai fazendo do Planalto. Afinal, sua fala é uma das marcas de Gleisi”.

 “Afinal, o que é a pronúncia ítalo-eclesial?” – pergunta Murá. Esclarecendo a origem dos falares do Brasil Meridional, um estudioso do linguajar sulista respondeu ao professor Aroldo: “O fenômeno fonético “italo-eclesial”, muito generalizado entre descendentes de italianos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e um pouco menos no Paraná, decorre da religiosidade desses imigrantes. Religiosidade praticamente absoluta entre as mulheres e mais diluída entre os homens”.

Uma das edições “leitE quentE” da Casa Romário Martins (“Nossa Linguagem, de Paulo Leminski) é dedicada ao tema que o professor e jornalista Hélio Puglielli, em auxílio a Aroldo, nos esclarece: “A origem do sotaque, como de outros hábitos que caracterizam o nosso tipo curitibano, decorre, exatamente, da síntese que se fez aqui em Curitiba entre várias etnias. Existem várias explicações para nosso sotaque, mas eu endosso integralmente aquela dada por José Ernesto Ericssen Pereira. A nossa maneira de falar decorre de uma necessidade didática. Quando os emigrantes chegaram aqui, procuraram aprender no dia a dia a língua da nossa pátria, e os que estavam aqui, em seu contato, em seu diálogo com esses emigrantes, falavam as palavras bem silabadas, com todas as sílabas, para que os ouvidos que não estavam familiarizados com as nossas vogais realmente registrassem os sons. E esses imigrantes, por sua vez, ao falar, também adotaram esta linguagem. Nós não falamos muito depressa, como alguns brasileiros de outros estados; a nossa fala é mais ritmada (…).

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Na edição de amanhã: Stefanello, o ítaloeclesiásticogauchesco.