O Museu de Ciências de Londres, para comemorar os seus 100 anos, promoveu uma votação para escolher as 10 maiores invenções e descobertas do século. Venceu o raio-X, o bisavô da tomografia, da ressonância magnética e, no futuro, tataravô da máquina de ler o pensamento, detectar desejos, prever intenções, gravar pesadelos e sonhos.

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Naqueles tempos da infância do raio-X, quando se amarrava cachorro com linguiça feita em casa, existia ao lado da Igreja da Ordem, no comecinho da Mateus Leme, o armazém do velho Egg, onde o chope era tirado com maestria artística e paciência oriental. No meio do século passado, era lá que a colônia alemã sentava nos caixotes de mantimentos e esperava disciplinadamente e com paciência a joia etílica do mestre Egg. Quando alguém pedia um chope “ligeirinho”, o mestre chopeiro respondia com a pressa exigida:

– Querendo tomar chope ligeirinho vai tomar lá na Rua XV de Novembro! Aqui leva o tempo que precisa.

Certa vez o jornalista Rosnel Bond, que não frequentava o Museu de Ciências de Londres, perguntou ao velho Egg:

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– Qual foi a maior invenção
do século?

O alemão respondeu ligeirinho:

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– A pompa! A pompa da chopes!

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Os 50 mil votantes do Museu de Ciências de Londres, entre frequentadores e internautas, elegeram a seguinte lista, pontificada por um outro alemão que seguramente deve ter ser sido admirador da “pompa da chope”.

Um: o raio-X, do alemão Wilhelm Conrad Röntgen

Dois: a penicilina, descoberta por acidente pelo escocês Alexander Flemming, em 1928.

Três: a estrutura do DNA, creditada aos cientistas Francis Crick e James Watson em 1953 (há controvérsias sobre quem foi realmente o pai – ou a mãe -desta descoberta).

Quatro: Com a Apolo 11, quando pisaram na Lua e voltaram para contar a história, aqueles três homens estavam realizando um sonho da humanidade que povoou a mente de Júlio Verne.

Cinco: foi com os foguetes V-2 que os programas espaciais russo e americano se originaram. E os mísseis balísticos também.

Seis: desenvolvida pelo inglês George Stephenson, a locomotiva Rocket não foi a primeira locomotiva do mundo e sim a primeira locomotiva a vapor moderna da humanidade.

Sete: O computador Pilot Ace, desenvolvido na Inglaterra no início dos anos 50 pelo National Physical Laboratory.

Oito: há séculos a máquina a vapor aparece na escrita científica, mas foi no século 19 que se transformou em eficiente realidade, dando início à Revolução Industrial.

Nove: Ford modelo T criou as linhas de produção em massa, mudando a manufatura, as relações trabalhistas e a poluição do planeta.

Dez: O telégrafo, desenvolvido na Inglaterra em 1837 por Sir William Fothergill Cooke e Sir Charles Wheatstone.

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Não se sabe se entre os 50 mil votantes do Museu de Ciências de Londres, entre frequentadores e internautas, algum discípulo do velho Egg votou na “pompa da chopes”. Possivelmente, porque haveria de ter algum galhofeiro no colégio eleitoral.

A exemplo do velho Egg, um gaúcho votaria na “bomba do chimarrão”; o baiano consagraria a rede, a sombra e a água fresca; o carioca, a bermuda e a sandália havaiana; o paulista, a indústria automobilística; e, se um dos frequentadores do Museu de Ciências de Londres fosse curitibano, elegeria o Ligeirinho. Não o “ligeirinho” do armazém do Egg. O Ligeirinho da estação-tubo. Ou então, se fosse uma eleitora de 15 aninhos, de micro saia, votaria no telefone celular.

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Em certos dias (no dia a dia do jornal, o tempo não urge: ruge!), tenho por mim que uma das maiores conquistas da humanidade foi a profissão de “revisor”. O raio-X do jornalista. Na coluna de ontem, por exemplo, depois de garimpar nas quase mil páginas de um livro (não fui ao Google), troquei uma data óbvia: não foi há vinte anos, mas sim no dia 19 de agosto de 1961 que as autoridades de Berlim Leste puseram trabalhadores e soldados a riscar uma linha divisória com Berlim Oeste.