Inferno tropical

Na novela Paraíso Tropical, um dos objetivos da trama será mostrar ao grande público as misérias do turismo sexual no Brasil. Especialmente no Nordeste, onde a corrupção de menores é um flagelo que vem de carona no mesmo vôo que traz fortunas para a indústria do turismo.

O autor Gilberto Braga deve escrever cenas exemplares do turismo sexual em países subdesenvolvidos, num enredo de final feliz: um uísque antes, uma garota durante e uma nota de cem dólares depois.

No reverso do paraíso, o diabo também castiga, e certas histórias ganham um final inesperado. Conheço pessoalmente dois personagens que foram para a cama com um anjo e acordaram com o diabo. São histórias reais de dois italianos que conheci no Norte da Itália. Dois homens de meia idade, solteiros, gente de vida sexual carente em seus próprios ambientes de origem e nenhum deles, nem de longe, com a aparência de um Marcelo Mastroiani.

Marcelo e Luigi, digamos. Nascidos vizinhos num minúsculo ?paese? do Norte da Itália.

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Marcelo é de uma família de produtores de uvas e maçãs. Possuem uma pequena área de terra nas encostas do vale trentino que vale uma boa fortuna naquele jardim junto aos Alpes. Costumava procurar sol e prazer na Tailândia e no Brasil, quando descobriu o que é que a baiana tem. Conheceu uma bela morena de Ilhéus e se apaixonou a tal ponto que duas vezes por ano, pelo menos, vinha se empapuçar no tabuleiro da baiana. Até que propôs casamento à moça. Ela aceitou, em troca de uma fazenda na Bahia. Nada mais, nada menos.

De papel passado, tiveram um filho – Marcelo passou a viver na ponte aérea Milão/Salvador – e tudo parecia um conto de final feliz. Só não foi assim porque a baianinha ficou novamente grávida, e o filho não era dele. Era de um sergipano que, entre um vôo e outro, o italiano já encontrou morando com a nova fazendeira de Ilhéus.

Marcelo bem que tentou levar o filho para a Itália. Perdeu a guarda do menino e uma fazenda de cacau.

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Luigi é aposentado desde jovem, depois que perdeu um olho num acidente de trabalho. Filho único de agricultores, com a razoável pensão do Estado também costumava procurar sol e prazer na Tailândia e no Brasil – a exemplo de Marcelo -, mas com todo o tempo disponível.

No Rio de Janeiro, dois momentos mudaram o destino de Luigi: primeiro conheceu uma estupenda loura numa boate em Copacabana. Depois recebeu a notícia do falecimento do pai, a mãe já havia morrido.

A urgente volta ao Norte da Itália foi melancólica, até porque a loura não lhe saía da cabeça. Foi, recebeu de herança a casa paterna com as plantações de uvas e maçãs, e voltou.

O Rio de Janeiro continuava lindo, a loura mais linda ainda. Era uma jovem garota nascida em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, que se dizia estudante universitária… em Copacabana! Ele acreditou. Mais que acreditou, foi conhecer os pais dela em Jaraguá do Sul. Descendente de alemães, a família não tinha casa própria, mas que não fosse por isso: Luigi comprou uma moradia para os pais da noiva. Sim, a viagem também era de lua-de-mel em Florianópolis e de lá os recém-casados esticaram até a Itália, agora para apresentar a estupenda estudante universitária do Rio de Janeiro para os amigos e vizinhos do ?piccolo paese?.

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Sei do desfecho da história através de amigos italianos que periodicamente nos visitam em Nova Trento: Luigi vendeu o que ganhou de herança e comprou um apartamento de luxo da Barra da Tijuca. Com a pensão que ele recebia da Itália, viveram um bom tempo de frente para o mar, mas ela tinha vergonha de sair na rua com aquele caolho e tratou de arrumar um outro com dois olhos bem vivos.

Marcelo e Luigi nunca mais voltaram para o inferno tropical: um perdeu a fazenda, outro o apartamento.

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