Diante do incêndio que fez em cinzas o Cine Teatro Ouro Verde, muitos foram às lágrimas – caso do educador e artista plástico Cleto de Assis, graças a quem se deve a compra pelo Estado daquele bocado da história de Londrina -, outros avivaram na memória as labaredas que botaram abaixo o Grande Auditório do Teatro Guaíra, em abril de 1970.

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Ao ver as imagens Cine Teatro Ouro Verde em chamas, o ex-governador Paulo Pimentel sentiu como se fosse na própria pele o calor do sinistro. Praticamente no fim dos seus cinco anos de governo, Pimentel já tratava do cerimonial de inauguração do Guairão quando as sirenes o chamaram à Praça Santos Andrade. Ao atravessar a multidão que se avolumava na calçada, recebia abraços do povo como se estivesse se encaminhando ao velório de um natimorto. Desgarrado da segurança palaciana, de repente se viu agarrado pelos bombeiros, sendo forçado a sair de baixo do piso do Grande Auditório que desabava. Paulo Pimentel lembra como se fosse hoje aquele momento de perigo, quando por um triz não ficou sob os escombros.

Dos escombros do Guairão, além do moderníssimo palco giratório que ainda não tinha sido montado, restou a mal disfarçada convicção que o incêndio seria criminoso. Das causas do início do fogo num canto junto ao Pequeno Auditório Salvador de Ferrante, a parte elétrica novinha em folha não teria sido, atestaram os peritos. Como de resto, tudo era de primeira mão, com exceção da suspeita de que o piso não suportaria a lotação completa para a inauguração. Pelos corredores do Palácio Iguaçu, se dizia aos ouvidos que a construtora, perante a tragédia anunciada, teria alguma culpa no cartório.

Hoje Paulo Pimentel não gosta de lembrar dessas suspeitas que lhe tiraram o prazer de inaugurar o sonho que o ex-governador Bento Munhoz da Rocha Netto acalentava desde 1955. Lembra, isto sim, que em dezembro de 1974 foi convidado pelo então governador Emílio Gomes para participar da cerimônia oficial de inauguração do Grande Auditório.

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Presentes os altos escalões da ditadura militar, momentos depois da cerimônia a maior roda do coquetel era formada em torno do presidente Ernesto Geisel e do ministro da Educação Ney Braga.

Entre um drinque e outro, já com as gravatas mais folgadas, o general Geisel sentencia em alto e bom som:

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– Nós perdemos essa eleição de 74 no Paraná por causa do Paulo Pimentel!

O acusado, numa rodinha ao lado, virou-se um tanto quanto ruborizado. Geisel também se virou e, rápido no gatilho, fulminou de olho no olho:

– Você vai pagar por isso, Pimentel!

 E pagou. Pagou caro, com um incêndio na sua vida política e empresarial.