Imagina depois da Copa

Das mais importantes contribuições do Paraná à imprensa nacional, o jornalista Sérgio Quintanilha é do tipo que se nega a desfilar no bloco do pensamento único.

Nascido em Maringá, com uma brilhante carreira iniciada no jornal no jornal O Estado do Paraná, passando pelas revistas Placar, Grid e Quatro Rodas, ocupando o cargo de editor-chefe em todas elas, até fundar a revista Carro e hoje chefiar a Motor Show, em boa hora Quintanilha sai em defesa do que, aqui no Paraná, os que se acostumaram “tanger a manada” há um bom tempo vêm chamando de “imprensa canalha”. Genericamente a “grande mídia”. Ou a imprensa não amestrada.   

Por ter aprendido a pensar com os seus próprios botões, antes da Copa do Mundo entrar na fase decisiva da Copa ele escreveu no Facebook: “Sou grande admirador de Ruy Castro, li vários livros dele e o considero o maior autor de biografias do país. Mas ouso discordar daquilo que todo mundo está concordando. A frase `imagina na Copa´ não foi uma criação da mídia `espírito de porco´ brasileira. Ela surgiu espontaneamente já há alguns anos, quando o país sofreu o `apagão aéreo´. Depois ganhou o Twitter e se espalhou. Todo mundo que viajava de avião sofreu na pele com atrasos, maus tratos e até acidentes aéreos. Não foi a mídia que superfaturou vários estádios e descumpriu a promessa de que esta seria uma `Copa da iniciativa privada´. O ambiente de protestos e de quebra-quebras surgiu naturalmente de setores da população e era muito natural que todos tivessem medo da repetição da Copa das Confederações, onde o pau comeu solto fora dos estádios. Tenho medo quando intelectuais fazem coro à tese de que `tudo é culpa da mídia´. A história está cheia de exemplos de situações em que a mordaça na mídia acabou beneficiando a uma imposição de pensamento único. Desculpe, Ruy Castro, sou teu fã, mas sou mais fã ainda da mídia brasileira, que fez e ainda faz muito por esse país”.

Para quem passou a ditadura dentro das redações de jornal – o que é nosso caso -, a mordaça que os “tangedores da manada” querem impingir à “mídia” não nos assusta. Como contemporâneos de Millôr Fernandes, essas bolas nas costas aprendemos a tirar de letra: “Quanto maior a mordaça, maior a mordacidade” –  ensinava o mestre que este ano será justamente homenageado na Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP).    

Como também dizia O Pasquim naqueles tempos de mordaça, “agora a Inês é morta”. Com a Copa do Mundo no início do segundo tempo, já não tem sentido fazer gracinhas com o desgastado chavão “Imagina na Copa!”, que Ruy Castro atribui à “mídia espírito de porco”. Agora, isto sim, a frase que importa é a seguinte: “Imagina depois da Copa!”.

Ganhando ou perdendo o caneco, imagina o Brasil depois da Copa. No lugar dos benditos legados, as heranças malditas.