Sem sombra de dúvida, o maior evento do governo Pessuti será o Baile de Ano Novo na Ilha das Cobras. Será bonita a festa, pá, bem mais bonita que a reinauguração do Palácio Iguaçu, no dia 18 de dezembro, com show de Chitãozinho e Xororó , brides à zero hora do dia 19, com direito à canja do próprio governador.

continua após a publicidade

Não se sabe se Flora Munhoz da Rocha será convidada para a reinauguração, mas a ex-primeira dama poderia refrescar a memória dos atuais (e futuros) dono do poder contando a história de como o ex-governador Bento Munhoz da Rocha reuniu a família, dos distantes aos próximos, para revelar onde seria construído o Centro Cívico. Falou e disse o intelectual: “Todos da família estão proibidos de comprar terrenos nas imediações ou no local”.

***

Há oito anos, desde antes de Requião assumir, venho reivindicando a subida honra de ser indicado caseiro da Ilha das Cobras, joia rara da coroa paranaense.

continua após a publicidade

Para conhecimento dos organizadores do baile de fim de ano de Pessuti, a Ilha hoje cercada de água, óleo e contêineres por todos os lados entrou para o patrimônio do Estado em 1937, quando Getúlio Vargas implantou a ditadura do Estado Novo. Alegando a existência de um plano comunista para a tomada do poder, Getúlio fechou o Congresso Nacional e mandou construir na Ilha das Cobras um presídio para isolar a caterva comunista.

Contrariando os planos do caudilho gaúcho, o interventor Manoel Ribas, nomeado por Getúlio, teve a genial ideia de transformar a pretensa hospedaria de comunistas num reformatório para menores. Uma destinação aparentemente absurda, mas tinha razão de ser, para os costumes da época. Sem televisão, shopping ou computador, os pestinhas do Manoel Ribas realmente não tinham o que fazer e incomodavam horrores. Segundo os registros de então, os pais só conseguiam controlar os filhos com dois métodos: amarrando o piá no pé da mesa, ou ameaçando com uma exemplar temporada na Ilha das Cobras. De preferência no mês de dezembro, quando as butucas lá veraneiam. Com o advento dos filmes de bang-bang e do gibi, o reformatório restou abandonado por falta de freguesia.

continua após a publicidade

A ilha só voltou a ser habitada muitos anos depois, quando Maneco Facão, já gagá, deixou de implicar com as crianças e um casal de noruegueses partiu dos fiordes gelados em busca de uma ilha paradisíaca nos mares do sul e o navio que os levava com destino a Florianópolis, fugindo de uma borrasca, bateu num contêiner perdido e naufragou no Canal da Galheta. O casal viveu na ilha por muitos e muitos anos, bem feliz e contente, constituiu família, sendo que uma das filhas, a mais esbelta e formosa, veio a contrair bodas com o grande poeta, escritor e teatrólogo Wilson Galvão do Rio Apa. Intelectual e aventureiro, hoje senhor todo-poderoso da Praia da Pinheira (SC), Apa chegou a viver na ilha por um bom tempo, mas essa é uma história que só o escritor Jamil Snege sabe contar com a devida vênia.

Sendo os sogros de Appa escorraçados pelas butucas, no primeiro governo de Ney Braga a Ilha das Cobras foi nomeada residência de verão do governo do Paraná. Após uma rústica reforma, a ilha conheceu poucos dos governadores seguintes. José Richa a frequentava, para fins de pescaria e carteado. No primeiro governo de Roberto Requião, o casario recebeu uma boa guaribada. Jaime Lerner, como não podia deixar de ser, encarregou uma força-tarefa de arquitetos para deixar o casario e o entorno com ares de resort baiano. Só estava faltando uma piscina, mas Requião ganhou de Mário Roque, ex-prefeito de Paranaguá.

Assim sendo e assim posto, aguardo a nomeação de Beto Richa.