Dentre os mistérios da América Latina, o nome Brasil seria mais velho que Cabral. Berço da “antiga raça branca dos brasilianos adoradores do Sol”, cuja terra mater seria a Atlântida, sua maior colônia imperial teria o nome de Hy-Brasil, com seus palácios dourados e o povo brasiliano em suas vestes tingidas de vermelho.

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A ilha Brasil ganhou nomes diversos, conforme o idioma da escrituração dos mapas pré-colombianos: Hy Breasil; Hy-Brasil; Hi-Brazil; Hybrasil; I0Breasil; Brazil; Brazille; Brazir; Brazie; Bracil; Bracir; Berzil; Braxil; Braxili; Buzille; O´Brasil; O´Brassil e Brasilge.

Aprendemos nas cartilhas que o nome “Brasil” vem do pau-brasil, a madeira cor-de-brasa muito apreciada pelos europeus como corante vermelho. No entanto, desde 1325 o nome “Brasil” aparece na cartografia como uma ilha a Oeste dos Açores; e o historiador Sérgio Buarque de Holanda defendia que a origem do nome é uma lenda celta que fala de uma “terra de delícias”, sabendo-se que a raiz “bres”, em irlandês, significa “nobre, sortudo, feliz, encantado”. Por dedução, vai daí que Jorge Ben Jor decretou na melodia que este é um “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Mas que beleza, os celtas já sabiam das coisas!

Vem da Irlanda, passando pelos tempos cabralinos, uma discussão que caberia à Academia Brasileira de Letras resolver. Afinal, somos brasileiros ou brasilianos?

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O sufixo “eiro” exprime profissão ou ofício: quem vende pipoca é pipoqueiro, o da padaria é padeiro e o que lidava com o pau-brasil, vendendo, transportando ou comprando, nesses termos tinha a profissão de “brasileiro”. E aquele que tingia a roupa de vermelho, com a casca do pau-brasil, era tintureiro.

Assim, o gentílico correto seria “brasiliano”, e nunca com o sufixo “eiro”, de brasileiro. Para Carlos Zatti, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, “a adoção de `brasiliano´, `brasílico´ ou `brasiliense´ se arrima à legitimidade do vernáculo, sem o dissabor de serem ridículos. Ter a coragem de reconhecer o próprio erro e a iniciativa de corrigi-lo é imperativo de brasilidade franca”.

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Assim como deveríamos ter coragem para corrigir o “vigente gentilismo do patronímico Brasil”, brasiliano e não brasileiro, ousaríamos ainda acrescentar o vermelho às cores da bandeira nacional em honra à tintura do pau-brasil? Ou, caso não tenhamos tal atrevimento, pelo menos a camisa da seleção brasileira deveria receber a tintura de nossas origens, o vermelho do Hy-Brasil?

Pelo sim ou pelo não, vamos deixar essa questão dormitando com Atlântida, nas profundezas do mar. Afinal, aquela “antiga raça branca dos brasilianos adoradores do Sol” (seriam eles os precursores da elite branca do Itaquerão?) não podia vestir outra coisa a não ser o dourado. E vamos torcer para as amarelinhas do Atlântico não amarelarem perante os “índios araucanos” do Pacífico. Quem venham os chilenos, com seus vinhos maravilhosos!   

Copa e cozinha

Convenhamos, com a Fifa controlando até o trânsito da cidade, a classificação do Brasil fez muito maridão abusar da paciência da patroa.

– Por que tão tarde?

– É o engarrafamento!

– Muito trânsito?

– Muito! Dois brancos e três tintos chilenos!