Tinha um tempo em que honestidade era uma palavra empenhada no fio do bigode. Consistia em dar como garantia um fio da própria barba para não passar vergonha na cara.

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Num momento em que a presidente Dilma anuncia um pacote anticorrupção como um remédio anti-inflamatório de sua impopularidade, o que dizer depois de tudo o que foi dito nas ruas? Não por falta de palavras, mas o menos cansativo a se dizer de novo é o que já foi dito de velho.

“Entre sem bater”, livro de memórias da escritora Flora Camargo Munhoz da Rocha, seria uma boa leitura no momento para a presidente Dilma e o governador Beto Richa, ambos no papel daquele camarada que, ao cair do alto de um arranha céu, ao passar pelo 13.º andar ainda guarda alguma esperança: “Até aqui, tudo bem!”.

Como esposa do governador Bento Munhoz da Rocha Netto, conta Dona Flora que o marido tinha a fama de ser o governador honesto. Ele não gostava de ouvir isso e contestava cofiando os seu emblemático bigode:

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– Honestidade não é virtude, é obrigação!

Na realidade – realça Flora Munhoz da Rocha -, Bento era excessivamente escrupuloso na gerência do patrimônio dos paranaenses, lidando com o maior respeito pelo que estava sob a sua tutela. Só para dar um exemplo que ficou para a história do Paraná.

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Quando governador, ao cogitar a construção do Centro Cívico, Bento optou por uma localização ideal – central e de barata desapropriação, devido a ser área desvalorizada e desabitada, pelo precário acesso da lamacenta e intransitável Cândido de Abreu.

Assim que decidiu, o governador reuniu os parentes Munhoz da Rocha e Camargo, quando informou que eles estavam sendo os primeiros a saber da decisão. Porém, no que fosse divulgada a notícia, os terrenos ao redor daquele lamaçal triplicariam de valor.

Bento fez então um apelo: pediu que todos os parentes lhe prometessem não adquirir um palmo de terra nas imediações. Ele não admitia que parente algum se beneficiasse do planejamento e construção do Centro Cívico. E assim aconteceu. Nenhum primo do governador, próximo ou distante, tirou vantagem da informação privilegiada.

Num outro exemplo em que a honestidade estava no fio do bigode, Flora Munhoz da Rocha conta que certa feita levou uma bronca do marido: “Um grupo de amigos nossos, entre os quais Homero Braga e Clarito Guimarães, associaram-se na incorporação da construção de um prédio de 15 quitinetes por andar. Coisa superpopular e tão mínima que mal merecia ser chamado de quitinete aquele quartinho de 3×4 e banheiro menor ainda. Para prestigiar os amigos, fiquei com duas unidades. A aquisição de irrisória monta com pagamento a perder de vista nem carecia consultar Bento. Mas não foi bem assim. Quando soube, me passou repreensão afirmando que, enquanto fosse governador, não queria aumentar seu patrimônio nem de um casebre de pau-a-pique”.