Paranaguá tem nas noites de lua cheia o cenário perfeito para o caiçara jogar a tarrafa no imaginário e com ela puxar as lendas do arco da velha. Aviso aos navegantes, turistas e espertalhões: antes de atracar em Paranaguá, convém observar as correntes marítimas da baía, o calado do Canal da Galheta e ouvir suas histórias de arrepiar.

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No dia 18 de agosto de 2008 morreu afogado na Ilha do Mel o maestro de uma orquestra da Alemanha. Ele e outros 13 músicos alemães foram levados por uma correnteza para o lado das pedras. Se o maestro de Frankfurt conhecesse a lenda da Gruta das Encantadas, o destino não teria sido assim perverso.

Conta a Lenda das Encantadas que um marinheiro ancorou sua embarcação em frente à Ilha do Mel e desceu para conhecer a gruta. Quando botou o pé na areia, foi atraído pela magia das ninfas, que cantavam em dialeto indígena a seguinte mensagem: “Passa com cuidado a ponte e vive bem com os outros. Assim como eles vivem bem, tu também poderás viver. Hão de te vir buscar e te levarão com eles para a tua morada”.

O destemido navegante ficou maravilhado com o cântico. Mais ainda encantado ao percorrer com os olhos as misteriosas mulheres nuas, de longos cabelos e curvas generosas, que bailavam na praia. Extasiado, fixou o olhar em uma delas e deu a mão à escolhida. A ninfa respondeu na língua nativa: “Tens de partir, homem estranho. Gostei de ti, mas tens de partir”.

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Apaixonado, o homem do mar respondeu: “Nunca. Jamais arredarei os pés de perto de ti, meu amor! Permita-me, por favor, gozar de teu carinho e da tua eterna companhia”.

A ninfa tornou a falar, com a voz de água doce: “Para que venhas comigo, é preciso que morras. Se tu aceitas, te convido. Vem, meu doce amor! A fonte doce da vida nos chama. Vamos, sem mais demora!”.

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Com as mãos entrelaçadas, ouvindo os cânticos das demais ninfas, caminharam mar adentro. Ao desaparecerem sob a água, restou a certeza do mais puro e lindo amor. As encantadas ninfas se foram, para nunca mais surgir.

Outra das lendas conta a história de um marinheiro holandês que desembarcou no Porto de Paranaguá e por lá ficou trabalhando como catraieiro. Bom camarada, como falava vários idiomas passou inclusive a ensinar línguas aos amigos mais chegados. Porém, passou a beber de tal maneira que muitas vezes dormia numa canoa. Em Paranaguá ninguém fica sem apelido. O holandês, que por muita coincidência tinha uma orelha prejudicada, ganhou um apelido à altura de suas bebedeiras: Van Grogue.

Certa noite vários guardiões do porto estavam de conversa fiada, quando um deles teve uma espécie de sonho. No terrível vislumbre passageiro, o vigilante viu o amigo holandês morrer afogado. E via e ouvia perfeitamente Van Grogue gritando por socorro. Aquilo não durou mais que um segundo, mas os outros companheiros perceberam que algo estranho estava acontecendo.

– Impossível! Isso podia acontecer com todo mundo, menos com o holandês que nada como um peixe!

Quando amanheceu, a notícia deixou o vigilante embranquecido:

– Aquela visão que você teve ontem à noite, foi verdade. O holandês morreu afogado.

Tremendo, o amigo pediu mais detalhes:

– Ele estava dormindo na canoa. Aí a maré vazante carregou o barco e bateu com ele, com toda a força, na amarra de um navio. A canoa virou e Van Grogue morreu afogado.

***

Prenderam mais uma quadrilha de alto bordo no Porto de Paranaguá e a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão no apartamento do ex-superintendente Eduardo Requião. Se o Diabo sabe muito porque é velho, foi no Porto de Paranaguá que o Satanás se graduou na arte de criar apelidos e com o Capeta a Vovó Naná terá muitas histórias para contar. De arrepiar.