O escritor Oscar Wilde garantia que podemos sobreviver a tudo, exceto à morte e a uma boa reputação. No caso do autor do Retrato de Dorian Gray, é relativo: a obra sobreviveu ao dândi. No entanto, a frase é precisa em se tratando, sobremaneira, dos governantes. Se o futuro a Deus pertence, para muitos o passado é propriedade do diabo.

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Napoleão Bonaparte, o baixinho invocado, prevendo que iriam lhe envenenar a biografia, tratou de desmerecer qualquer juízo futuro: “A história é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um acordo”.

E saiu da vida para entrar numa história controversa, tal e qual o gaúcho Getúlio Vargas, outro baixinho invocado. Conforme os humores da época, no Paraná poucos sobreviveram a uma boa reputação. Moysés Lupion foi o que passou mais cicatrizado para a história, feito sinônimo de corrupção, falcatrua e roubalheira. Duas vezes governador eleito (1947 e 1956), deputado federal cassado pela revolução, em 1948 um relatório oficial do Banco do Brasil mostrava Lupion como dono de uma das cinco maiores fortunas do País. Atuava em vários setores, com um conglomerado de 47 empresas que sumiram no ralo da política. Dizem que morreu na classe média, enrolado em questões judiciais envolvendo suas poucas propriedades restantes. Mesmo com tudo aquilo que lhe foi atribuído, em 1976/77 a Comissão Geral de Investigações do Ministério da Justiça arquivou, por unanimidade, os processos contra ele.

O poderoso que um dia teve que se exilar na Argentina morreu no Rio de Janeiro aos 83 anos, no dia 29 de agosto de 1991. No velório realizado no Palácio Iguaçu, alguém deve ter murmurado:
– Roubalheira? Precisava ver como era no tempo do Lupion!

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Bento Munhoz da Rocha Netto, por mais que procurassem na sua biblioteca um livro pornográfico que lhe arranhasse a boa reputação, sobreviveu à história muito bem no retrato. Mesmo assim, no fim da vida os inconformados juravam que tinham visto o professor bebendo cerveja, sentado na calçada da Rua Saldanha Marinho.

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O ex-governador Ney Braga passou à história como um homem generoso com a família e afilhados. Sua reputação guarda dois senões, no julgamento dos detratores: foi por demais amigo do general Ernesto Geisel e, galante, passava a mão no bigodinho quando via uma moça bonita.

Haroldo Leon Peres, o breve, não conseguiu se enterrar com a má reputação e, numa segunda tentativa, a sua teimosa reputação de corrupto comprovado também não foi enterrada com o empresário Cecílio Rego Almeida.

De José Richa dizer o quê? Se como pai de Beto Richa é uma virtude, jogar baralho no avião com os companheiros era uma dissipação. Quando se candidatou pela segunda vez a governador, o velho Richa foi acusado de aposentado pelo adversário Roberto Requião e, com essa má reputação, perdeu a eleição.

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Dos ainda presentes, o advogado Paulo Pimentel passa ao futuro com a imagem de um governador que saiu do palácio carregado pelo povo, mas não vai se livrar de uma má reputação: para os desafetos, e para todos os efeitos, é jornalista.
“No tempo do Jaime Lerner, a Prefeitura só fazia maquiagem no centro e não sobrava nem pó-de-arroz para os bairros.

A única obra na periferia foi a Conectora 5, lá onde não morava ninguém”, esse era o estigma do arquiteto. Trinta anos depois a reputação local não variou muito, agora acrescida de quilos a mais na balança e a fama de ser um exímio sapateador nos palcos.

Com a crença de que o nepotismo é abençoado por Deus (afinal, até Ele nomeou o filho para o cargo de Salvador), Roberto Requião vai deixar para a posteridade uma cópia da famosa obra de Rafael “A sagrada família”. No seu período florentino, o mestre pintou Isabel, mãe de São João Batista, Maria, Mãe de Jesus, as duas crianças e São José numa composição em forma de pirâmide monumental.