Guarapuavano não tem medo do frio. O frio é que gela de medo do guarapuavano. Com uma altitude que varia entre 1.000 e 1.200 metros, Guarapuava se garante como uma bela cidade com quatro estações bem definidas: a estação de rádio, a estação rodoviária, a estação meteorológica e o inverno.

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Fundada em 1810, Guarapuava faz fronteira com o Polo Sul e o Polo Norte. Terra de gente resistente às intempéries, com 4 graus negativos aumenta na zona urbana a venda de biquínis e sungas. Dizem os geógrafos que sem Guarapuava o Brasil não seria descoberto: quem iria produzir os ventos para impulsionar as caravelas?

Nesses últimos anos, desgraçadamente, os ventos não têm trazido notícias boas para a “Cidade Ventania”. Mas para preservar sua autoestima, graças ao brio de sua gente Guarapuava acaba de sair das páginas de tragédias para ganhar espaço nobre nos principais jornais e revistas de Nova York.

Nos conta o jornalista Lucas Mendes que no coração de Nova York o guarapuavano Valdir Cruz plantou suas “Raízes” numa das melhores galerias fotográficas da cidade, a Trockmorton, na rua 57. Amigo de Valdir Cruz há mais de vinte anos, o maestro do “Manhattan Connection” nos diz porque o “filho do vento” se tornou um dos maiores fotógrafos do mundo:

Raízes é seu nono livro e sua quinta exposição em NY. Ficou entre os cinco finalistas do Fernando Pini , o principal prêmio de artes gráficas de São Paulo. O livro foi também para a Feira de Frankfurt. Foram 16 mil quilômetros de carro pelo interior de São Paulo, caminhadas intermináveis, carrapatos abomináveis e um número incontável de noites varadas na pós-produção em Nova York. Com uma técnica nova e patenteada de reprodução de cópias em pigmentos naturais, uma foto de um metro quadrado leva entre 25 e 30 dias para ser finalizada. Os negativos têm 9 por 11,5 centímetros, uma câmera gigante. Das sessenta fotos que ele colocou no livro, 30 são parte da “Coleção”. Cada uma custa US$ 5 mil. Faça as contas e vai ver que o Valdir um dia talvez até fique rico, mas essa não parece ser a preocupação dele no momento.

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“Caçador de árvores” como a peroba rosa, o jequitibá, jaqueiras, figueiras, gameleiras (no total de 60 majestosas árvores, algumas cada vez mais raras), Valdir Cruz foi para Nova York em 1978, onde passou seis anos como torneiro mecânico. Conforme Lucas Mendes, o talento desse filho das araucárias se revelou quando um amigo deu a ele uma câmera de 35mm e sacou que estava diante de olhar incomum, capaz de colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração.

O coração de Guarapuava.

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