Grito da floresta

Uma obra pública é um elefante amarrado no circo, mas quando desembesta leva tudo que estiver na sua frente. Assim são as ações políticas. Levam anos para fazer alguma coisa de útil e quando fazem, não pensam em todos os problemas causados.

Conforme denunciou o jornalista Celso Nascimento na edição de domingo da Gazeta do Povo, “um dos mais importantes centros de pesquisa florestal do país, situado em Colombo, poderá ser praticamente destruído se for aprovado o projeto que prevê a construção do Contorno Norte de Curitiba. O traçado proposto corta ao meio a área de 300 hectares da Embrapa Florestas, pondo abaixo grande extensão de plantas nativas e experimentais e afetando a qualidade de décadas de pesquisa no restante da reserva”.

Segundo Celso Nascimento, “os pesquisadores da Embrapa nem sequer foram consultados. Estão apavorados. Temem que se repita lá algo parecido com o episódio do Instituto Royal, de São Roque (SP), que teve décadas de pesquisas realizadas com cães da raça beagle destruídas por vândalos black blocs. Os que agora ameaçam a Embrapa preferem atingir o reino vegetal?”.

É indiscutível que o contorno será excelente em termos de trânsito e de tempo de transporte. No entanto, o novo traçado vai passar dentro de uma bela área de florestas nativas, uma das maiores da região metropolitana, e vai destruir várias pesquisas, resultado de anos, às vezes uma vida, de trabalhos científicos. Infelizmente os técnicos da Embrapa não trabalham com alfaces, se trabalhassem ninguém reclamaria, pois alface é só trocar de canteiro, replantar e em 20 dias se volta ao estado anterior. Mas, infelizmente, eles trabalham com florestas. E para conseguir uma geração de árvores melhoradas precisam em alguns casos de 20 anos de labuta.

Até agora sem nenhum investimento, a estrada ainda não foi licenciada ambientalmente. Haverá audiência pública na próxima semana e o grupo de pesquisadores da Embrapa estará lá protestando, de cara limpa, sem máscaras, em defesa das nossas florestas.