Na mitologia grega, Ftono é o deus da inveja. Numa consulta que fizemos ao Olimpo, a divindade do ciúme nos assegurou que só mesmo uma força suprema para conter os ânimos fratricidas no Paraná.
– A inveja é uma M!‘- nos disse Ftono.

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Para resolver essa praga que parece eterna, fomos entrevistar Ftono numa cobertura de frente para o mar em Caiobá, onde os invejosos se encontram.

– O Paraná é um Estado singular até na gastronomia. Além da fama do barreado, só aqui no nosso litoral é possível cozinhar caranguejo com a panela sem tampa, porque na fervura o de baixo segura o de cima. Seria uma maldição dos deuses?

– É a maldição do caranguejo? – perguntei,

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– Infelizmente o Paraná ainda não saiu do ‘Ciclo do Caranguejo‘: quando um quer sair do balaio, os outros se unem para puxar o ousado pra baixo.

– Se a inveja é invenção do demônio – voltei a indagar – de que forma a Graça Divina poderia iluminar os fratricidas?

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Ftono, o deus da invídia, puxou de seu calendário gregoriano e respirou fundo, com ar inconformado:
– Só numa generosa mesa podemos serenar os ânimos fratricidas causados pela maldição do caranguejo. Com a graça divina, ainda é possível unir os irmãos paranaenses em torno da mesma mesa. Para tanto, seria preciso reunir amigos e inimigos para uma caranguejada!

No Hemisfério Norte, a temporada do caranguejo-real começa no Alasca em 15 de outubro e encerra em 15 de janeiro. No hemisfério Sul a temporada de caranguejos encerra no dia 15 de março, quando começa o período de Defeso (tempo em que fica proibida a captura, visando a proteção e reprodução da espécie). Passando esse próximo sábado, só no dia 15 dezembro de 2015.

Depois de consultar Ftono – deus que fala pelos cotovelos-, foi preciso procurar dois dos melhores restaurantes de Curitiba especializados em caranguejos. Na Ópera do Bambu – cujo nome lembra uma sinfonia de martelinhos -, o caranguejo é servido na mesa, cozido ao tempero da casa, limpo, sem carapaça e em um prato próprio com o martelinho. Sob a batuta do maestro Tosin, cada cliente tem à disposição um buffet com antepastos, feijão, milho-verde, caldo de siri e saladas com molhos quentes e frios.

Outra toca do caranguejo em Curitiba é o restaurante La Rampa, Nilo Peçanha, onde o mestre Brasílio Hrynczyszyn dá uma pata de caranguejo para quem soletrar o seu sobrenome na entrada. Mesmo com a ressalva de que o caranguejo de Guaraqueçaba é um dos mais saborosos do Brasil, é do mestre Brasílio a receita imbatível do ‘Caranguejo à moda baiana‘: cebola; tomate; cebolinha; salsinha; pimentão; pimenta e sal. Simples como deve ser, a caranguejada do mestre não precisa de nenhum molho para acompanhamento.

Ao saber que uma boa caranguejada vai muito bem com uma purinha de Morretes, comentou Ftono, o deus que nasceu enciumado de Baco:

– Tenho muita inveja das pessoas que bebem e comem bem. Pelo menos têm alguma coisa em que botar a culpa.