Gente fina na cadeia é outra coisa

Se prosseguir em sua fase de autocrítica, Lula também deve reconhecer que um dos maiores erros do PT foi deixar de investir pesado na infraestrutura. Principalmente na infraestrutura do sistema penitenciário.
Bem diferente do que se imagina, o mais sombrio dos símbolos da Revolução Francesa tinha tudo o que os bacanas da Petrobrás gostariam de usufruir agora na cadeia da Polícia Federal. A tão temida Bastilha era na verdade um castelo bem modesto, com 65 metros de extensão por 27 de largura, muito bem equipado para receber os donos do poder. 

Se forem condenados pelo juiz Sérgio Moro, nada poderia estar mais longe do que os piratas da Petrobrás vão encontrar nas prisões brasileiras. Conta o historiador Robert Massie: “A Bastilha foi a mais luxuosa prisão que já existiu. Ali, os encarcerados não enfrentavam desonras. Com raras exceções, seus ocupantes eram aristocratas ou cavalheiros recebidos ou tratados de acordo com suas posições. O rei poderia ordenar que nobres problemáticos fossem levados para lá até eles mudarem de opinião.

Pais podiam mandar seus filhos rebeldes à Bastilha por vários meses até eles se acalmarem. Os quartos eram mobiliados, aquecidos e iluminados de acordo com as condições e o gosto dos prisioneiros, que podiam ter um servo e receber visitantes para jantares. Havia competição pelos quartos mais agradáveis: aqueles no topo das torres eram os menos desejáveis, pois eram os mais frios no inverno e mais quentes no verão. Nada era exigido dos presos, que podiam tocar violão, ler poesia, exercitar-se no jardim e planejar o cardápio para seus convidados”.

O mais misterioso encarcerado da Bastilha foi o Homem da Máscara de Ferro, cuja identidade o escritor Alexandre Dumas revelou como irmão gêmeo de Luís XIV. Como a maioria das histórias sobre a Bastilha, grande parte dessa não passava de imaginação: a famosa máscara de ferro não era de ferro. Era de veludo negro, embora até mesmo o diretor da Bastilha não tivesse sido autorizado a erguê-la. O prisioneiro morreu, ainda desconhecido, em 1703.

Se arrependimento matasse, no Brasil nem mesmo a guilhotina seria necessária. Na medida em que as máscaras vão caindo e a Justiça se aproxima dos palácios – em Brasília ou no Paraná -, é o que se lamenta nos corredores do poder: “Por que diabos deixamos de botar dinheiro na cadeia?”.