Dizem os petistas seguidores de Zé Dirceu que o Mensalão teria nascido em Minas Gerais. Acima de controvérsias, a origem do jabaculê está na biografia do Barão do Itararé (“Entre sem Bater”, de Cláudio Figueiredo). Trata-se de história que já entrou para o folclore da imprensa brasileira, quando o jornalista Mário Rodrigues, pai de Nelson Rodrigues, foi a Minas Gerais buscar “recursos não contabilizados” com o governador Mello Viana.

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Dono do jornal “A Manhã”, Mário Rodrigues levou a tiracolo o próprio Apporely (o Barão de Itararé) no papel de engraçado e o jovem repórter Danton Jobim. Instalados no melhor hotel de Belo Horizonte, dirigiram-se os três ao palácio do governo.

– Muito bem, de quanto vocês precisam? – perguntou o governador mineiro. Mário Rodrigues informou a quantia e o secretário da Fazenda entregou a bolada em dinheiro vivo. Ao deixar o Palácio, os dois acompanhantes concordaram com o patrão:

– Isso merece uma comemoração!

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Pediram uma garrafa de champanhe francês, duas, três, e foram jogar no cassino. Às três da madrugada não tinham mais um tostão no bolso. No dia seguinte, Mário chamou os companheiros de farra e anunciou:

– Sou um criminoso, tirei o pão da boca dos meus filhos. Vou me suicidar.

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Apporely, friamente, botou a mão no ombro do chefe e ponderou:

– Dr. Mário… O senhor tirou esse dinheiro com tanta facilidade, vai lá e tira de novo!

E lá foram os três de volta ao palácio, para espanto do governador Mello Viana:

– Ué, vocês não foram para o Rio?

Cheio de lábia, exibindo uma máscara trágica no rosto, o pai de Nelson Rodrigues arrancou novamente a bolada do governador mineiro.

– Isso merece mais uma comemoração! E vamos recuperar o dinheiro no cassino!

Como é de se imaginar, não recuperaram o dinheiro no cassino e o Barão de

Itararé novamente consolou o patrão:

– Dr. Mário… Quem dá uma e dá duas, também dá três.

E foi o que aconteceu. O governador mineiro acabou cedendo, sob uma condição:

– Eu dou o dinheiro, mas só quando estiverem na estação para pegar o trem para o Rio de Janeiro. Quando o chefe da estação apitar e o outro abaixar a bandeira para locomotiva sair, o secretário da Fazenda joga o pacote pela janela para vocês.

Na viagem de volta, Mário Rodrigues não cansava de elogiar o Barão de Itararé:

– Apporely, você é um gênio! Nunca trabalhei com um gênio no jornal. Você é um gênio!

De fato, o Barão de Itararé era um dos gênios da raça. E a biografia dele é ótima. Não deixe de ler. É um bom começo para entender o tal do Mensalão.