Convocado para animar a campanha eleitoral de Curitiba, o animador de velórios dos Campos Gerais foi até Guarapuava no início da semana, mas já voltou. Na volta, o Jaguara foi conhecer em São Luiz do Purunã um criame de gambás domésticos.

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Com essa lei seca no trânsito, dizem os criadores, os gambás domésticos estão proliferando que é uma beleza. A natureza opera milagres. Selvagens e ruidosos nativos dos bares e restaurantes, estes marsupiais da família dos didelfídeos estão mudando seus hábitos, se adaptando aos poucos ao ambiente doméstico. É o equilíbrio ecológico: se a espécie perde seu habitat natural, sua própria natureza provoca outras acomodações.

Os hábitos dos marsupiais são noturnos, por isso, quando começa a escurecer, o gambá sai de seu abrigo para caçar. Sendo um animal onívoro, se alimenta praticamente de tudo o que encontrar num balcão de boteco.

O convívio com a família em recinto fechado tem lá as suas dificuldades. Antes encontrados em espaços abertos, muitos dos gambás não conseguiram suportar a solidão no bar da churrasqueira doméstica. Um deles, conta o animador de velórios, saiu do trabalho e foi direto para casa tomar umas e outras, enquanto assava uma picanha bem gorda. Após esvaziar a geladeira e mais uma purinha de Morretes, pagou a conta para a digníssima esposa, chamou um táxi e foi dormir na casa da amante.

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Muito esperto, outro gambá descobriu um jeito de conviver em paz com o lar, amargo lar. Para despistar a carraspana, chegava do boteco e ia direto pra cama. Antes, dizia para a família:

– Estou com uma dor de cabeça terrível!

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Era todo o dia a mesma dor de cabeça, é de matar! O gambá conseguiu enganar a ingênua patroa por algum tempo, até aparecer a sogra para uma visita. Como de costume, ele chegou e se encaminhou pra cama. A sogra, desconfiada, pegou o gambá pelo braço e perguntou:

– O que é que você tem, meu filho?

Com a língua presa, respondeu o gambá:

– NADRA!

O animador de velórios dos Campos Gerais viu com seus próprios olhos a difícil adaptação dos gambás. Terminado o velório em Guarapuava, os agentes da funerária começaram a fechar o caixão. Desesperada, a viúva se atirou sobre o corpo do marido e começou a soluçar:

– Ai, meu querido! Eles vão te levar para onde não há luz, não há comida, não há bebida, não há nada.

Ao que um gambá doméstico, encostado na soleira da porta, resmungou:

– Não é que vão levar esse infeliz lá pra casa?

Que Deus nos perdoe, a lei seca confunde padre com gambá. Por causa de um cálice sagrado de vinho, o papa ainda vai autorizar missas em domicílios. Como no Brasil nem mais os padres entendem latim, teremos o serviço religioso em inglês: “Deus delivery”.

Conforme o Jaguara apurou, o manejo dos gambás exige cuidados especiais, principalmente para evitar acidentes domésticos. O copo tem quer ser de plástico, porque não tem o garçom para limpar o estrago. Seja na churrasqueira ou no barzinho da sala, imprescindível a instalação de corrimãos também nos corredores de acesso a todos os aposentos da casa, especialmente nos banheiros. Caso o gambá ainda não esteja perfeitamente domesticado, aconselha-se que a família tenha calma, não o contrariando de jeito nenhum. O bicho, nesse estágio, torna-se muito violento.

Outra advertência: que a esposa não receba nenhuma amiga para jantar, com o gambá doméstico no quintal. Sua natureza de boteco não pode ver um rabo de saia.

Depois que a lei seca reduziu em 40% o consumo de cerveja, os criadores de São Luiz do Purunã agora estão pesquisando um animal híbrido, o cruzamento do gambá de boteco com o gambá doméstico. O nome científico será este: “Anfíbiopaud’água”. Tanto vive no seco quanto na água.