Galinho do Alto da Glória

A propósito da possível ressurreição do Coritiba, com um pé fora da cova graças ao menino Evandro, o Animador de Velórios dos Campos Gerais anda contando um causo de Carlos Zatti, escritor, músico e compositor, profundo conhecedor dos usos e costumes da vida campeira. É a história do Jango do Tamanduá, que levou seu humilde galo para brigar numa temida rinha dos Campos Gerais, em Papagaios Novos. Lá chegando, Jango calmamente retirou seu humilde galinho da sacola e disse:
– Não haverá em Papagaios um galo taura, para esse frangote ordinário?

Pois havia um! E trouxeram o galo do tenente Pila, chefe de polícia. Um campeão de altas patas, longas as penas da cauda e olhos vidrados. Soltos na rinha, já arrepiaram as penas do pescoço, espreitando-se, e daqui em diante o Jaguara abre aspas para o que escreveu Carlos Zatti:

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“E foi o zambo do Jango o primeiro a lançar-se ao ataque, saltando com investidas de tigre ao peito do campeão, de esporas em riste.

– Vamos meu zambo! – gritou Jango.E foi com sanha: o bico feroz prendeu-se na crista do campeão e a espora sangrou o pescoço do seu adversário. Era um valente o frangote ordinário. Sangrando continuava combatendo com renovada fúria, batendo várias vezes seu peito, contra o peito do oponente, com suas longas esporas. De súbito o campeão deu as costas ao outro e começou a correr simulando fuga.

– Vamos zambo, ele está fugindo – gritou Jango.

Aliviado da sufocação, o campeão deteve sua fuga e voltou; cravou uma cortante esporada no olho direito, esvaziou-lhe a órbita. O galo de Jango perdeu o equilíbrio e estatelou-se contra a parede.
Gritaria geral na assistência.

– Matou-o, tenente!- falou o soldado Pereira.

– Vamos campeão – falou alto o tenente, após recuperar a fala – Acaba com esse merda, campeão!
Jango limitou-se a fitá-lo. Mas a rinha não terminou. Zambo, caolho e sangrando, voltou a procurar o adversário.

– Vamos, meu zambo! – gritou o dono sem olhar para o rinheiro, com o olho fixo no tenente.E o zambo recostado na parede, juntando todas suas energias desesperadas, se lançou tal relâmpago de sangue e plumas, ao peito do campeão. A cutilada da espora, centuplicada pela velocidade da arremetida, penetrou no ouvido do contendor, jogando-o ao chão, pescoço curvo e trêmulo. Estendeu-se depois, teso, rígido, morto”.

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Esse causo contado pelo Animador de Velórios dos Campos Gerais está fazendo sucesso entre alguns torcedores do Alto da Glória, todos convencidos que o Coritiba devia ser escalado da seguinte maneira: nove na defesa, zambo no meio e o Evandrinho na frente.