Orai por nós, Steve Jobs! Nós jornalistas estamos prestes a perder o emprego. Quase no olho da rua, o que nos deixa ainda mais abismados é que a internet está quebrando todos os cânones estabelecidos. Um deles financeiro, o princípio de que não existe almoço de graça.

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As pitonisas que já enxergam o fim do jornalismo impresso podem estar vendo tudo com muita clareza, mas elas precisam nos explicar porque na internet todo mundo está comendo de graça. É grátis o ágape mundial. E o que é pior, todo mundo está trabalhando de graça para todo mundo. Escritores, poetas, ilustradores, cantores, compositores tornaram-se provedores gratuitos. Tem artista trabalhando mais depois de morto do que em vida.

O jornalista Clovis Rossi nos conta que sua morte voltou a ser anunciada. Conformado com o fim do jornalismo impresso, mas com o IPad embaixo do braço, o respeitado colunista da Folha de S. Paulo só faz uma pergunta em defesa dos nossos empregos: “Como os editores encontrarão recursos para pagar pelos artigos a serem publicados na edição eletrônica? Pois é, a verdade é a seguinte: o problema do jornalismo não é exatamente o modo em que ele é difundido, mas o modelo de negócio digital. Ninguém inventou até agora uma maneira de fazer dinheiro com jornalismo digital, dinheiro suficiente para pagar uma estrutura ao menos parecida com a do jornal-papel. E, sem ela, a coleta de informações empobrece na mesma proporção do encolhimento da máquina informativa”.

A atriz Cacilda Becker mantinha uma placa na bilheteria do teatro: “Não me peça de graça a única coisa que eu tenho para vender”. Há mais de quarenta anos trabalho neste jornal impresso e nunca a Editora O Estado do Paraná nos atrasou o salário. Aqui atravessamos as turbulências da ditadura, mas nunca nos pediram para trabalhar um único dia de graça.    

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Cacilda! A internet está revivendo o período da escravatura e os escravos caíram na rede. A bênção, Bill Gates; a bênção, Larry Page; a bênção Jack Dorsey; a bênção Mark Zuckerberg.