O Supremo Tribunal Federal (STF) acabou com a farra do nepotismo, em termos. No Paraná, nos deparamos com uma situação singular. Se por um lado são perfeitamente contestáveis os méritos daqueles privilegiados de QI (Quem Indica), por outro, a boa atuação de Maristela Requião à testa do Museu Oscar Niemeyer (MON) é reconhecida e aplaudida até pelos adversários do marido.

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No momento seguinte à eleição de Roberto Requião, quando em 2002 os nomes para compor o primeiro escalão do Estado eram apenas murmurados, aqui neste espaço fui o primeiro a defender a indicação de Maristela Requião para a direção do Museu Oscar Niemeyer. Por estar o Museu do Olho ainda nas fraldas, recém-inaugurado pelo então governador Jaime Lerner, argumentava que só uma pessoa que “dormisse com a chave do cofre, debaixo do mesmo lençol” poderia sustentar uma estrutura daquele porte, e assim lhe proporcionar um destino afortunado. Esta seria Maristela Requião. Outro nome não seria contemplado com as mais íntimas decisões do poder, muito menos conseguiria achar os mais exclusivos corredores de acesso ao mecenato da iniciativa privada.

Lembrava ainda que o QI de Maristela Requião não poderia, de modo algum, ser traduzido para o depreciativo “Quem Indica”. Desde os anos 60s/70s, a diretora do MON circula com desenvoltura entre a classe artística. Seus primeiros passos foram dados na Galeria de Arte Cocaco.

Uma bela mansão com um imenso pé de guabiroba no quintal. Assim era a vista da Cocaco, para quem passasse pela Rua Comendador Araújo (ao lado do Shopping Crystal). À sombra daquele pé de guabiroba, se deliciaram com seus frutos os principais artistas do Paraná: de Poty a Juarez Machado, era na Cocaco que a jovem Maristela Quarenghi assessorava Eugênia Kuratz, a galerista.

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Ênio Marques Ferreira, fundador da Cocaco em 1955 (começou como casa de molduras na Rua Ébano Pereira, ao lado da Biblioteca Pública do Paraná), guarda boas lembranças de Maristela Quarenghi e, de modo especial, do pé de guabiroba. Respeitado crítico de arte, Ênio Marques Ferreira se soma àqueles que aplaudem a atuação de Maristela à testa do MON. Sugere apenas que, para contar à sombra uma bela história, Maristela deveria plantar um pé de guabiroba no quintal do Olho.

Não cabem neste espaço os méritos e o magnífico rol de exposições do Museu Oscar Niemeyer. Um dos méritos que poucos sabem: num governo inchado de protegidos sem méritos, o MON é tocado basicamente por uma equipe de 14 profissionais. Outro mérito de Maristela, todos altamente qualificados: Vera Coimbra, Sandra Fognaloli, Ariadne Mattei, Rose Franceschi, Solange de Cássia Chemin (esposa de Gilberto Rosemann, da reverenciada Galeria Caixa de Criação) e outros nomes que não tenho no momento, aos quais deixo cumprimentos.

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Numa de suas Terças Insanas, o governador Roberto Requião conclamou os paranaenses a saírem às ruas em defesa do uso da TV Educativa como patíbulo de adversários e desafetos. Em vão. Com exceção de Doático Santos, que foi à Boca Maldita tocar trombone com sua briosa banda, o que mais aconteceu foi um minuto de silêncio pelo pífio desempenho do secretariado estadual. Minuto de silêncio que não pode ser estendido a dona Maristela Quarenghi de Mello e Silva.

Com a decisão do STF (a nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até 3.º grau, é proibida nos três poderes), decidido estou a pedir emprestada a briosa de Doático Santos e sair na avenida, com a boca no trombone, pedindo consideração:

– Fica, dona Maristela!