Não se fala mais nisto. Esta história de que Curitiba não tem Carnaval é conversa de quem carece de assunto. Estribilho de velhos Carnavais. É o surrado bordão de que o curitibano é frio, a balela de que ele não cumprimenta o vizinho, anda de cabeça baixa por vergonha de si mesmo, não gosta de samba e é doente do pé.

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Doente é quem se escondeu em casa e não viu o cortejo dos milhares de mortos-vivos em marcha tétrica pelo centro de Curitiba. A “Zombie Walk”, o Carnaval dos zumbis, reuniu todos os desertores dos cemitérios de Curitiba para dar uma demonstração de que o Carnaval é, acima de tudo, uma exibição de bom humor. Um estado de espírito que não exige traje a rigor para sair à rua, com a exigência de apenas um instrumento: a imaginação. O resto se improvisa.

Assim como as escolas de samba de Curitiba – sem dinheiro, nem eira, nem beira – estão se improvisando há décadas para botar a festa no olho da rua, apesar dos inúmeros contratempos. Este ano, por exemplo, a politicamente correta Comissão de Carnaval radicalizou na abertura dos festejos: “O Rei Momo é um magrelo e a Rainha do Carnaval de Curitiba não tem bunda! O que aconteceu com o nosso Carnaval?!” – pergunta o cartunista Carlos Alberto Noviski.

Dizia o carnavalesco Mansueden dos Santos Prudente, o Chocolate (1933-1984): “Se você é mordido pelo cão, isso não é notícia. Mas se, em vez disso, você morde o cão, aí passa ser notícia. Eu sou o cara que mordeu o cão e, às vezes, a prefeitura”. Compositor, passista, pai e patrão da extinta escola de Samba Ideais do Ritmo, Mansueden era do tempo que o Carnaval era feito em casa. Literalmente, no fundo do quintal. Com modestos numerários da Prefeitura e de um Livro de Ouro que carregava embaixo do braço, Chocolate levava para a rua Marechal Deodoro uma escola modesta, tão modesta quanto aquela Curitiba dos anos 1960/70.  

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Como lembrou com toda a propriedade o arquiteto Fábio Duarte, quando Curitiba perdeu a modéstia, ela se perdeu: “Houve um tempo em que Curitiba era modesta. Era boa”. Assim eram as escolas de samba do tempo do Chocolate. Modestas e boas. O que levou nosso Carnaval à breca foi a mania de grandeza daqueles que ainda acham que os nossos desfiles precisam ter a pose e o porte do Rio de Janeiro, de São Paulo, no mínimo de Florianópolis e, se assim não for, que chafurdemos na lama da Sapolândia.

Depois dos Garibaldis e Sacis, depois da marcha dos Zumbis (Zombie Walk) e depois da volta das escolas de samba para a Marechal Deodoro – de onde o Rei Momo nunca devia ter saído, para amargar um longo e tenebroso exílio no Centro Cívico ,- fica combinado assim: Curitiba tem Carnaval!

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Nosso Carnaval é  modesto, é o único que temos!