O alvoroço foi grande nos bastidores do Grande Teatro Celestial. Tudo por conta da iminente chegada de Mário Schoemberger, em trânsito para a vida eterna. O camarim mais concorrido era o da atriz Lala Schneider, já aflita com os preparativos para a festa de recepção ao colega que acabara de se despedir de Curitiba.

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– Que Deus não ouça toda essa balbúrdia, ou ele acaba nos mandando ao diabo. Gente, vamos botar ordem na casa: com c-a-l-m-a, cada um apresenta sua sugestão para a festa de acolhida ao nosso querido Mário Schoemberger. Primeiro os mais velhos: Salvador de Ferrante, qual a sua proposta?

– Minha querida, passo a palavra para o doutor Bento Munhoz da Rocha Netto, em consideração ao ilustre, e também porque comungamos da mesma ideia.

– Obrigado, Salvador. Não obstante o amigo possuir um propício nome para salvar a festa, propomos então Schoemberger seja conduzido à presença de São Pedro com um desfile carnavalesco, ao som da banda dos irmãos Queirolo.

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– Supimpa! (Gritou lá de fora o colunista Dino Almeida). E me proponho ainda a realizar em seguida um baile de Carnaval no salão de festas do Templo Divino!

O diretor Antônio Carlos Kraide subiu numa cadeira, levantou a mão e, por sobre os ombros de Maurício Távora, se prontificou:

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– Eu vou sair fantasiado de Diabo!

– Ora, ora, Kraide! (Foi a vez de José Maria Santos se manifestar). Para quem já é um capeta, isso não é uma fantasia, é um uniforme!

Quando Kraide e Zé Maria ameaçaram ir aos tapas, Lala Schneider retomou a condução dos trabalhos.

– Manoel Carlos Karam, o nosso teatrólogo, tem alguma observação a fazer?

Karam abriu caminho entre um animado grupo (Glauco Flores de Sá Brito, Joel de Oliveira, Aristides Teixeira, Ariel Coelho, Idelson Santos, Fernando Zeni, Olinda Wischral e Aílton Silva, o Caru) e se aproximou com aquele seu jeito sereno de sempre:

– Gostaria de saber se eu posso ser o primeiro da fila de cumprimentos, pois eu tenho uma pergunta muito importante a fazer ao meu amigo Marião.

– Sua vontade é uma ordem, meu querido! (Concedeu Lala) E vamos então à questão do cardápio da festa de recepção. Odelair Rodrigues, o que você sugere?

– Pelo que o Senhor Todo Poderoso confidenciou ao Dr. Félix do Rego Almeida, aqui presente, Schoemberger estava recolhido em casa e há muitos meses não saía para beber e comer com os amigos, como de costume. Presumimos então que há muitos meses Mário estava privado do “Buchinho à milanesa” do Bar do Edmundo, daquela “Carne de onça” do Distinto Cavalheiro e do cardápio do Café do Teatro, onde ele tinha sempre de prontidão uma garrafa de bom uísque.

– Sem esquecer do “Pernil com verde” do Bar Triângulo! (Lembrou Roberto Menghini)

– E o “Mineiro com botas” do Bar Palácio? E os sorvetes do Gaúcho? (Acrescentou Oraci Gemba)

Sem esquecer as empadinhas do Caruso, Odelair Rodrigues retomou a palavra.

– Entendemos que o cardápio da festa precisa saciar o ventre do minotauro, com as delícias que fazem os mistérios de Curitiba.

– E pra quem não bebe álcool, serviremos Gengibirra Cini!

Lala Schneider bateu o martelo e foram todos para a produção do espetáculo.

***

Os anjos soaram seus clarins, o céu brilhou com as estrelas do foguetório e os portões da eternidade se abriram lentamente para dar passagem ao grande ator, emoldurado por um canhão de luz vindo do firmamento. Flutuando num tapete azul celeste, Mário Schoemberger entregou suas credenciais a São Pedro e a furiosa banda dos irmãos Queirolo fez contraponto às manifestações de júbilo. A fila de cumprimentos era grande e, conforme o combinado, o sempre bonachão Schoemberger recebeu o primeiro abraço de Manoel Carlos Karam, que perguntou:

– Mário, acharam o padre Adelir de Carli?

– No mar e na terra, ainda não acharam. Ele deve estar aqui faz tempo!

– Aqui também não está, procuraram até no quinto dos infernos. Se o padre voador não está na terra, não está no mar, não está no céu, no limbo e nem no inferno…

– Karam, isso dá uma peça de teatro!