O percussionista e compositor Fernando Loko está comemorando por antecipação os seus 68 anos, no próximo dia 23. Recém-saído de intervenções cirúrgicas nos olhos, desde quarta-feira já está com dois cristalinos novinhos em folha, sem mais correr o risco de “tropeçar nas vacas” – como ele mesmo diz. Músico dos mais importantes da cena curitibana, com mais de 200 composições próprias, Fernandinho formou, ao lado de Lápis, Anadir Salles e Dalton Contim, o mítico conjunto Bitten IV. Conforme testemunhou Aramis Millarch, “foi a partir de uma irreverente rumba cha-cha-cha, “Vila Hauer” (Que se fuere em mi Boqueron, mi Boqueron), que Fernandinho cantava nas noites do antigo “Caverna da Bruxa”, que surgiu a ideia original de fazer um espetáculo sobre Curitiba – que desaguaria em “Cidade Sem Portas”, estreado em 1972, com texto de Adherbal Fortes de Sá Jr. e músicas de Paulinho Vítola.

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Ainda impossibilitado de vestir sua camisa listrada e sair por aí, atrás de um cavaco e um tamborim, o antoninense Fernando Fernandes Mariotto Alves de Oliveira manda avisar à praça que “o véio ainda não está morto!”. 

– Para quem enxergava o mundo de cabeça pra baixo, como foi ver tudo pela metade?

Fernandinho: Andava tropeçando nas vacas, com cataratas mais fortes que as de Foz de Iguaçu.

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– E agora, vai voltar a tocar?

Fernandinho: O espetáculo não pode parar. Todo mundo tem a sua cruz, a minha é a Cruz Machado! Mas enquanto não voltar a tocar, vou fazer a minha biografia. Tenho tudo na mão, principalmente as fotos. O Aramis Millarch começou e teve que parar. O Jamil Snege queria escrever, mas não deu tempo. Parece que a velharada toda está morrendo muito cedo.

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– E a noite curitibana; não é mais aquela ou você que já não é mais o mesmo?

Fernandinho: O velho não tá morto. Mas a verdade é que não tem mais lugar pra ir. Parece que na noite curitibana músico bom é músico pobre e doente. Morto, melhor ainda.