Fedentina

Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, telefonou de Brasília. Depois de passar as últimas semanas ajudando a melhorar o humor do time do Atlético (o que é muito difícil, com o azedume do Mario Celso Petraglia), os camaradas comunistas o convocaram para espairecer o guardamento do ministro Orlando Silva. Ministro por força da cadeira que ele ainda ocupa na pasta dos Esportes, porque na realidade o representante do PCdoB na base aliada do governo não passa de um morto-vivo. Um zumbi, zanzando em volta do caixão, se arrastando pelos cantos. Assim como o Derosso, enquanto não aparecer um bom exorcista o Orlando Silva não entrega o osso.

– Estamos fazendo força, mas esse comunista é duro na queda. De jeito maneira vamos conseguir fechar a tampa do caixão.

Segundo o Jaguara, que até contratou um bando de carpideiras para o velório, Brasília está com o ar irrespirável. A fedentina de peixe morto é insuportável.

– Você que é jornalista – pergunta o Jaguara – e sabe embrulhar peixe com jornal, peixe tem de cheirar mal?

– Que eu saiba, de jeito nenhum. Peixe tem que ter cheiro de peixe. Quando são perfeitamente frescos, fora d´água há apenas umas poucas horas, praticamente os peixes não têm cheiro algum. Só aparece aquele odor de peixe quando começa a se decompor.

– Aqui em Brasília é tudo diferente. Os peixes já nascem no lago Paranoá com uma fedentina insuportável.

– Mas há um outro motivo pelo qual o peixe pode estragar rapidamente. Muitos deles têm o hábito inamistoso de engolir outros peixes inteiros. Nesse caso, apodrece rapidamente. É por isso que peixes devem ser eviscerados o mais cedo possível depois de pescado.

– Então está explicada a fedentina do poder. Os bagrinhos terminam sempre nas tripas dos tubarões.

– E as más companhias são como um mercado de peixe; acabamos por nos acostumar ao mau cheiro.

Ao encerrar a conversa, me despedi com um conselho:

– Volte logo Jaguara: peixe e visitas cheiram mal depois de três dias.