Fantasminhas camaradas

Verdade ou não, mas ouvi de um saudoso jornalista que, no dia 14 de dezembro de 1968, estava ele conversando com o ex-governador Paulo Pimentel, quando adentra subitamente à sala o deputado Aníbal Curi. Como se sabe, o “guru” – assim Aníbal era conhecido – não batia na porta de ninguém para ir entrando. Conta-se que, ao morrer, entrou batendo a porta da sala do Todo Poderoso e já foi perguntando: “Quem mandava aqui?”.
Esbaforido e suando em bicas, Aníbal vinha com notícias frescas do que se passava no meio político, com a edição no dia anterior do Ato Institucional nº 5.

– Aníbal, como está o clima lá na Assembleia Legislativa?

– Tudo calmo, governador. Por enquanto os militares não estão prendendo os corruptos!

Aos que hoje pedem a volta dos generais, saibam estes paranoicos que até os militares não conseguiram botar a mão nos corruptos. Tanto que, em resposta aos boatos de que de uma hora para outra a Assembleia Legislativa seria tomada pelo Exército, Aníbal Curi teria respondido matreiramente:
– Se os milicos entrarem na Assembleia, só vão prender os fantasmas. O resto já tomou chá de sumiço!

Aníbal Curi sabia do que estava falando. Não havia uma sala no Centro Cívico, da prefeitura ao Palácio Iguaçu, incluindo principalmente o Tribunal de Contas, onde o “guru” não tivesse mapeado um ninho de fantasmas.

Eram tantas famílias de fantasmas zanzando em torno da Praça Nossa Senhora de Salete que, muito provavelmente, o fantasma Gasparzinho deve ter nascido numa incubadora da Assembleia Legislativa do Paraná.

Casper the Friendly Ghost (Gasparzinho, o Fantasminha Camarada), como aprendemos no gibi, é um fantasminha bem peculiar. Muito dado, perfeitamente desfrutável, diferente dos congêneres, vive em busca de novos amigos e não gosta de apavorar ninguém. É a ovelha branca, para desespero da família: o Trio Assombrado (os tios malvados do fantasminha), o diabinho Brasinha e a Boa Bruxinha.

Aníbal Curi conhecia tão bem estes e outros fantasmas que – diz a lenda em torno do avô do atual deputado Alexandre Curi – certa vez ele foi participar de uma inauguração em União da Vitória e ficou hospedado numa casa com fama de mal assombrada. Lá pelas tantas da madrugada, depois de um bom carteado no hotel do governador, ele desafiou outros dois membros da comitiva, um engenheiro e um advogado.
A aposta era ver quem conseguiria dormir naquela mansão assombrada. Nem bem o engenheiro se botou para dormir, quando uma voz quebrou os vidros da janela.

– Uhuhuhuh… sou o fantasma da cueca velha!

O engenheiro botou a cara para fora, não viu ninguém e se escondeu embaixo da cama. Minutos depois, o advogado na cama ao lado começou a levitar, ao som do vozerão que vinha do sótão:

– Uhuhuhuh… sou o fantasma da cueca velha!

O advogado saiu em disparada porta afora e sumiu no milharal.

Quando Aníbal começou a roncar, foi acordado pela voz do fantasma em desespero:

– Uhuhuhuh… sou o fantasma da cueca velha!

Aníbal Curi imediatamente sacou a carteira de baixo do travesseiro e disse:

– Agora chega! Toma esse dinheiro e vai comprar uma cueca nova!