Segundo Ernani Buchmann, um sábio da prosa e da escrita, “há bares e bares. Bares chiques e botecos chinfrins, e se você tiver que escolher entre um e outro, opte sempre pelo chinfrim”. Mas há controvérsias. No Batel por exemplo, onde o chique Cicarino Bar acaba de ser eternizado numa obra cujo nome foi um dos endereços mais chiques de Curitiba: “333, Coronel Dulcídio” é um álbum de luxo, com o texto luxuosíssimo de Carlos Alberto (Nêgo) Pessôa.

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Lançado na noite de segunda-feira no Bigorrilho, com a presença maciça do Batel , podemos dizer que o álbum de recordações do Cicarino é propriamente o “Facebook do Batel”. De capa dura, papel couchê e policromia de cabo a rabo, o lamentável na edição foi a ausência de legendas nas fotos. Sem identificação, é um desfilar de mulheres bonitas e alegres senhores com o triste destino de se transformarem em ilustres anônimos para a posteridade.

Além da prosa do todo prosa Carlos Alberto (Nêgo) Pessôa, o “Facebook do Batel” nos brinda com algumas doses de bom humor nas memórias etílicas de Luiz Fernando Pereira, José Maria Correia e, em especial, o relato de Sérgio Toscano sobre dois companheiros de boemia, Raymundo Alvarez e João Carlos Zagonel, em constantes e mútuas implicâncias.

Certa madrugada, Raymundo, então beirando aos 70 anos, abordou uma moça muito bonita. O galanteador ia se saindo muito bem, a garota se divertindo a valer, quando de repente João Zagonel, que contava com quase 650 anos, aproximou-se do casal e, com todo o respeito, disparou em voz alta para o bar ouvir: “Pai, a mãe telefonou e disse para o senhor levar pão e leite para casa”.

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As melhores histórias do Cicarino Bar, no entanto, não estão contadas nas páginas. Das impublicáveis, uma das melhores se trata do bacana que, depois de ganhar seguidas guampas, aproveitou a viagem em “lua-de-mel” da belíssima esposa com o amante e chutou a barraca. Levou para o próprio lar, doce lar, uma dúzia de damas da noite arrebanhadas nas melhores casas do ramo e, em vez de abrir a carteira, abriu os guarda-roupas da patroa, uma famosa modista do Batel: “É tudo de vocês, dos sapatos aos vestidos, incluindo perfumes e casacos de pele, levem tudo para casa. Não quero ver nenhuma calcinha sobrando na gaveta”.

No dia seguinte, diante dos armários vazios, a ressaca moral o levou a se internar num manicômio. Ganhou alta com as guampas de sempre e, o pior, a mulher ainda teve que pedir dinheiro emprestado com o amante para pagar a conta do hospital psiquiátrico.

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Um brinde a Carlos Alberto Pessôa, um brinde a Vicente Ciccarino Neto, legenda da noite curitibana. Mesmo sem legenda.