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O dramaturgo Doático Santos está realizando aos sábados uma temporada teatral na Boca Maldita. Os espetáculos fazem o público rolar de rir (e de chorar) no petit-pavet, apesar do enredo repetitivo. Para colaborar com o repertório da trupe de comediantes, tomamos a iniciativa de adaptar três fábulas de Esopo que podem sanar a principal falha dos espetáculos.

A Raposa e as Uvas

No papel de Raposa: Heitor Moreira Traço Junior.

Apresentador: Doático Santos

Caminhando em direção à Praça Osório, a Raposa vê pendurados os jornais com os últimos números das pesquisas eleitorais. A Raposa levanta o focinho, lambe os beiços e tenta alcançar as páginas com a pata. São números apetitosos, verdes e viçosos como uvas no jardim do paraíso.

A Raposa usa então de todos os seus artifícios e não consegue atingir os índices com as patas. Cansada de tanto saltitar, a raposa bota a imensa língua pra fora, dá meia volta e desiste. Consolando a si mesmo, o desapontado Moreira Traço Júnior dá de ombros, sentindo-se o mais dos rejeitados:

– Pensando bem, estou perdendo meu preciso tempo com essas pesquisas. Elas foram compradas, não são honestas como eu imaginei a princípio.

(Fala Doático Santos, o apresentador)

Moral da história: Nosso candidato não é vaidoso, não precisa se exibir com pesquisas fajutas do neoliberalismo das elites. Quando nosso grande líder tomar conta do Horário Gratuito do TRE, vamos esmagar o almofadinha, o bonitinho milionário da propaganda e publicidade.

O Ladrão e a Fera

No papel da Fera: Maurício Requião, conselheiro do Tribunal de Contas.

No papel de Ladrão: O boneco monstruoso de um cartola da imprensa canalha.

Com um cenário de papelão simulando os cofres públicos, bem em frente ao Café da Boca, o Ladrão se aproxima sorrateiramente. Ele traz nas mãos alguns sanduíches para tentar distrair e acalmar o feroz cão de guarda, que naquele momento está lavando a calçada. Os sanduíches de pernil com verde serviriam para distrair a Fera, de modo que ela não chamasse atenção com seus latidos.
Assim que o Ladrão joga os sanduíches, temperados com mostarda, aos pés de Maurício (a Fera), este sobe num banquinho e discursa, imitando Paulo Autran:
– Se a imprensa canalha estava querendo calar minha boca, cometeu um grande erro. Tão inesperada gentileza vinda de suas mãos, apenas serviria para me deixar ainda mais atento. Sei que por trás dessa cortesia sem motivo, a mídia deve ter algum interesse oculto para beneficiar a si mesmo e prejudicar o meu irmão.

(Fala Doático Santos, o apresentador)

Moral da história: Não vamos comer o pão da mídia que o diabo amassou. A imprensa faz qualquer negócio em troca de um prato de comida. E jornalistas nós atraímos com um pedaço de lingüiça pendurado na porta do Palácio.
 
A Lebre e a Tartaruga

No papel da Lebre: O boneco almofadinha de Beto Richa

No papel de Tartaruga: Heitor Moreira Traço Júnior

Apresentador: Doático Santos

A Lebre, sentada num banco da Boca Maldita, ridiculariza as pernas curtas e a lentidão da Tartaruga. Com um sorriso sarcástico, a Tartaruga tira os óculos e diz:
– Pensa você ser rápida como o vento, com essa moto Harley-Davidson? Muito te enganas: eu vou vencer a corrida!

A Lebre almofadinha dá uma acelerada ensurdecedora na Harley-Davidson e aceita o desafio. A Fera (Maurício Requião) é o juiz. E é dada a partida. A Tartaruga larga, com seu passo de tartaruga. Mas a Lebre, confiante na sua poderosa Harley-Davidson, deita na calçada para um rápido cochilo. Ao despertar, não consegue alcançar a Tartaruga, que cruza a linha de chegada, e agora descansa tranqüila num canto da Boca Maldita.

(Fala Doático Santos, o apresentador)

Moral da história: A falácia da pesquisa quer decidir a corrida antes do início. Se eles vão de Harley-Davidson, nós vamos de Roberto Requião. Máquina por máquina, a nossa é mais poderosa.