Com toda sua vivência nos bastidores da cidade, com a memória de quem acompanhou passo a passo a revolução urbana que alavancou a auto estima dos curitibanos, o jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior escreveu no seu blog – com a elegância de sempre – porque estamos naufragando no mesmo barco dos tolos, a nau dos insensatos.

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Exemplo para o mundo que hoje está decadente, os sistemas integrados de transportes de Curitiba e da região metropolitana “não podem ser jogados na mesma canaleta, nos mesmos terminais e nas mesmas vias rápidas, como se fossem um só” – é a tese de Adherbal: “Precisam ser isolados da disputa política entre o governador do Estado e o prefeito de Curitiba, motivada pela eleição do ano que vem. Gustavo quer ser reeleito, Beto quer colocar Ratinho Junior na Prefeitura. A greve dos ônibus é parte dessa briga e a reação dos curitibanos é monitorada por pesquisas de opinião pública. A culpa é de Fruet? Aumentam as chances de vitória de Ratinho. Beto é visto como responsável pelo impasse? Gustavo está reeleito”.

Segundo o autor de “Cidade sem portas” – a grande peça teatro sobre Curitiba, em pareceria com Paulinho Vítola -, o sistema integrado de Curitiba e região metropolitana “lembra o barco dos tolos, um livro satírico de Sebastian Brant, publicado em 1494. Conta a história de um barco cheio de tolos e guiado por tolos, que segue para o Paraíso dos Tolos. Virou um quadro famoso de Hieronimus Bosch”.

“A nau dos Insensatos”, de Sebastian Brant (1457-1521), é uma crítica à sociedade de seu tempo, denunciando as misérias e vícios tanto da nobreza quanto do povo, não poupando a Igreja, a Justiça, as universidades e outras instituições da realeza. Em 112 capítulos, cada qual dedicado a um tipo de insensato ou louco, Brant censura os excessos e o desleixo, a avidez por dinheiro e a falta de escrúpulos, a perda da fé e o desinteresse pelo cultivo do intelecto. Em contraste com os sábios e prudentes, os insensatos deixam evidente sua arrogância, grosseria, leviandade, indolência, gula, mentira, violência, a ponderação e a absoluta falta de juízo.

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Seis anos antes da descoberta do Brasil, Sebastian escreveu “A Nau dos Insensatos”. A “Caravela dos Tolos” deve ter sido a nau capitânia de Pedro Álvares Cabral. E, pelo tanto que essa greve de motoristas e cobradores enlouqueceu a cidade, o antes reverenciado Sistema de Transportes de Curitiba é o próprio “Expresso dos Insensatos”.