Estamos no mapa-m

Com a auto-estima a 934 metros de altitude e o ego inflado, os curitibanos ganharam crédito para se exibir ainda mais pelo mundo afora. Levantamento realizado pela operadora do cartão Mastercard colocou Curitiba entre as 49 cidades com maior influência no mercado global.

Antes um pontinho quase invisível no mapa-múndi, agora Curitiba é enxergada de longe. E temos bons números para ficar prosa. No ranking de 65 cidades de países emergentes no mercado global, ocupamos o número 49.

No quesito segurança, que leva em conta segurança pessoal, liberdades civis dos indivíduos, ocorrências de desastres naturais e ambiente social, a cidade é a quarta colocada dentre todas as 65. Na América Latina, com 16 cidades na lista dos 65 centros comerciais, conquistamos um honroso 12.º lugar.

Podemos nos gabar. O sonho preconizado pelo visionário anarquista italiano Giovanni Rossi está se realizando. No final do século XIX, num delírio de arquiteto, o engenheiro agrônomo escreveu: “Curitiba, como qualquer outra cidade, é dividida em três diferentes bairros ou seções. A cidade velha, que está destinada a sumir e que, diante da grandiosidade dos novos edifícios, parece realmente misérrima; a cidade provisória, que se ergue sobre o velho alto de São Francisco e que tem elegantes e cômodas casas de madeira; a terceira seção compreende a cidade monumental que está se formando aos poucos ao sul da cidade velha. Trata-se de palácios de mármore maravilhosos, destinados a durar séculos, como Gênova, Veneza e Florença”.

Quem diria? O Bairro Novo, na região sul de Curitiba, ainda vai se transformar numa Florença do lado de baixo do equador. Exibidos estamos, até prosas. Porém, a boa notícia do Mastercard não chegou em boa hora. Com a tsunami do mercado global batendo nas barrancas do Rio Atuba, precisamos botar as barbas do profeta Giovanni Rossi de molho. Lembra do dia que o mundo não acabou? Quando ligaram o maior e mais poderoso acelerador de partículas do mundo, entre a França e a Suíça? Alguns sensacionalistas diziam que um buraco negro iria sugar rapidamente a Terra. Nada aconteceu e, logo em seguida, o Grande Colisor de Hádrons foi desligado para reparos.

A máquina poderosíssima foi religada, nos parece. E, como conseqüência que surpreendeu até os mais otimistas, o buraco negro do acelerador de partículas sugou as bolsas, os bancos, a economia de milhares de investidores e, de quebra, os republicanos de George W. Bush. Só sobrevivemos nós outros, sem um tostão no bolso.

Por enquanto. O buraco negro ainda vai sugar salários e empregos pelo mundo afora nos próximos anos, sem data prevista para a tsunami virar a marola que o Lula espera. Segundo Immanuel Wallerstein, sociólogo norte-americano e um dos teóricos da Teoria do Sistema Mundial (de onde vem
a expressão Sistema-Mundo), a depressão já começou: “Alguns jornalistas, um tanto constrangidos, seguem perguntando aos economistas se talvez não estejamos só entrando numa mera recessão. Não creia neles nem por um minuto.

Já estamos no começo de uma depressão mundial de grande envergadura, com desemprego maciço em quase todas as partes”. E o que é pior, acrescenta Immanuel Wallerstein, para felicidade de Hugo Chávez, Roberto Requião e demais caudilhos de esquerda ou de direita: “Estamos nos movendo em direção a um mundo protecionista. Estamos nos movendo para um papel muito maior do governo na produção. Mesmo os EUA e a Grã Bretanha estão nacionalizando parcialmente os bancos e as grandes empresas moribundas. Nos dirigimos a uma distribuição conduzida pelo governo, que pode assumir modos social-democratas a centro-esquerda ou formas autoritárias de extrema direita”.

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Estamos no mapa-múndi, convém não esquecer. Curitiba pode abrir champagne para comemorar a posição alcançada. Mas vamos brindar com moderação.