Estalactite é pra baixo, Estalagmite é pra cima.

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Foram feitos um para o outro. Tite e Mite estão se conhecendo há anos. Namorados, quase casados. Moram no mesmo prédio, mas dividem a mesma caverna em dias de não e em dias de sim. Em dias de não, Estalagmite mora com a mãe no apartamento de baixo. Em dias de sim, ela fica com Estalactite, no teto de cima. Estalactite, o Tite, mora em cima. Estalagmite, a Mite, mora embaixo.

Tite é pra baixo, 40 anos, vive de rendas. Ou melhor, dos já extintos pinheirais da família, outrora esparramados no Brasil Meridional. Quando veio para Curitiba fazer cursinho para o vestibular, já não sabia o que fazer da vida. E ainda não sabe.

Estalagmite é pra cima, 35 anos, formada em Comunicação Social e Relações Públicas. Produtora e promoter, com quinze aninhos já conhecia Paulo Leminski. Num sábado de verão voltou de Caiobá e ancorou no Bar Stuart, onde ganhou uma frase do poeta Polaco, como sempre num guardanapo: “O Rio é o mar, Curitiba o bar”.

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Mite e Tite se conheceram na Ilha do Mel. Embaixo do céu que nos protege e do sol que nos revigora, ela estava passando bronzeador (Rayto de Sol, aquele argentino de velhos carnavais) quando Tite se agachou na sua frente:

– Pode me emprestar o batom?

Assim, mais que de repente, Mite ficou quase que abismada. Tite delicadamente passou o carmim nos lábios e, depois de correr lascivamente sua língua de serpente de um canto ao outro da boca, pediu mais:

– Pode cuidar da minha cadeira? Vou buscar uma cerveja e já volto.

Estalagmite jamais soube de cantada igual. A primeira tinha sido de um antigo admirador, que escreveu num maço de cigarros MINISTER: Minha Inesquecível Namorada, Isto Será Tua Eterna Recordação.

Por não fumar, Mite respondeu ao avesso: RETSINIM: Recuso Essa Tua Suja Insinuação, Não Insista Mais.

Ao retornar com duas cervejas na mão, Estalactite largou as latinhas embaixo do guarda-sol e se jogou ao mar em socorro da Estalagmite:

– Me ajude, estou pegando fogo!

Era uma água-viva grudada ao longo da coxa. Tite ergueu Mite nos braços e a levou à sombra da baixa vegetação da ilha. Naquele tempo, água-viva era raridade. Uma loteria, digamos.

– Como não temos vinagre para a limpeza, cerveja também serve – chutou o doutor palpiteiro.  

Sozinhos naquele vazio da Ilha do Mel, com duas latinhas de cerveja Estalactite e Estalagmite voltaram para Curitiba com o corpo em chamas.

Hoje, quando o casal esfria a relação, ela fulmina no facebook:

 – O canalha é uma água-viva que grudou na minha vida!

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