Sempre que se aproxima o Carnaval, pergunta o curitibano aos seus botões da blusa: “Onde vou passar o Carnaval?”. Do ônibus à gasolina, agora com tudo custando os olhos da cara do Cerveró, neste fevereiro só nos restam três opções para ser feliz: viajar para Maracangalha, onde podemos levar a Anália; descansar em berço esplêndido em Pasárgada, lá onde somos amigos do rei; ou sambar na Pindaíba, o estado governado por Beto Richa.

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Conforme a obra de Deonísio da Silva, “De onde vêm as palavras”, pindaíba vem do tupi-guarani pindá, anzol, e yba, vara, o conjunto de anzol, linha e vara de pescar. A expressão “estar na pindaíba”, indicando estado de pobreza absoluta, advém da situação de miséria em que se encontrava o índio quando não conseguia apanhar peixes, um de seus principais meios de sustento. Ficar na pindaíba é sentir-se reduzido a um caniço e a um anzol para sobreviver.

Sem sair da Pindaíba, não se sabe onde o governador Beto Richa vai passar o Carnaval. Talvez na Ilha das Cobras, cantando a marchinha “Pescador”, de Aroldo Lobo e Hamilton de Oliveira: Domingo é dia, de pescaria, oi / Lá vou eu, de caniço e samburá / Maré tá cheia / Fico na areia / Porque na areia dá mais peixe, que no mar (bis).

Sempre é Carnaval. Na Pindaíba a gente ganha pouco, mas se diverte. Se de um lado da rua o governador da Pindaíba rebola sem perder a pose, do lado de lá os professores, fantasiados de palhaços, botam a boca no trombone: “Caloteiro, onde está o meu dinheiro?”.

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No Estado da Pindaíba, este Carnaval vai entrar para a história. No sambódromo da Polícia Federal, a Escola de Samba Unidos da Petrobras promete sair com um desfile bilionário, tendo Graça Foster como Rainha da Bateria; Jaques Wagner no comando da Ala das Baianas; Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann de mestre-sala e porta-bandeira; Paulo Roberto Costa vai agitar a Escola de Samba Acadêmicos da Propina, que este ano apresenta o enredo “As Minas de Pré-Sal do Rei Salomão”; Alberto Yussef, presidente da Escola de Samba Unidos da Delação Premiada, apresenta o enredo “Dando nome aos bois”; e, para fechar o desfile, ao lado Nestor Cerveró, Sérgio Gabrielli, Renato Duque e demais sambistas da Unidos da Petrobrás, o compositor Luiz Inácio Lula da Silva vai puxar o samba ao lado de Zé Dirceu, com João Vaccari Neto e Dilma Rousseff no abre alas.

Só não sabemos como o Estado da Pindaíba vai arrancar mais impostos para pagar o desfile, visto que o governo só tem dinheiro para suas próprias fantasias. E como Gustavo Fruet também está de caniço e samburá, não há muitas alternativas, senão pedir penico aos patrocinadores que estão aqui mesmo na Santa Cândida: OAS, Camargo Corrêa, UTC, Galvão Engenharia, Engevix, Mendes Júnior e, se for o caso, passar o “Livro de Ouro” entre os empresários do transporte coletivo.

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