Esse mundo é uma bola

Se as relações entre a República Federativa do Brasil e o Reino Unido da FIFA já eram tratadas em nível de pontapé na bunda, agora ficaram na base do salve-se quem puder. Sem considerar que os estádios estão sendo tocados com tecnologia baiana (“não faça hoje o que você pode fazer amanhã”), Dilma Roussef lavou as mãos (fez muito bem, porque o Blatter quer botar a mão em tudo) e vetou a Lei Geral da Copa, que suspendia legislações estaduais e municipais referentes à bilheteria dos jogos. Com a decisão, a FIFA vai ter que atuar em todas as 12 sedes da Copa de 2014 para regulamentar a compra de ingressos.

Resumo da porfia. A distribuição e compra de ingressos vai virar um furdunço internacional, com vereadores, prefeitos, deputados, governadores e demais autoridades municipais e estaduais tentando arrumar um jeitinho para furar a fila e, o que é pior, a esbórnia será tão grande que os ingressos serão impressos no Paraguai.

Contam os veteranos que o Cristo Redentor foi vendido pela primeira vez na Copa de 1950. Os mineiros chegavam ao Rio de Janeiro para comprar ingressos para o Maracanã e levavam no mesmo pacote o Pão de Açúcar, terrenos de frente para o mar na praia de Ipanema e títulos de sócios do Copacabana Palace. No Paraná aconteceu a mesma coisa. Na mesma Copa em que entregamos o caneco para o Uruguai, os ingressos para os jogos na Vila Capanema eram vendidos nos balcões do jogo do bicho, tendo como brinde escrituras de terras no Norte do Paraná.

Esse mundo é uma bola e otários é que não faltam. Agora mesmo, na decisão da Liga dos Campeões, alguns abonados curitibanos (entre eles o ex-governador João Elízio Ferraz de Campos) compraram pela internet ingressos a 1800 euros e ficaram chupando o dedo em Munique. Com mais outras duzentas vítimas de várias nacionalidades, não receberam as entradas no hotel, como acertado, muito menos conseguiram reclamar o dinheiro de volta nas bilheterias do estádio. A sorte dos ludibriados pela internet é que fora do estádio não faltou cerveja para esquecer o prejuízo.