Espíritos do bem

Alguns espíritos, dizem os crentes, podem aparecer para os vivos sob a forma de animais apavorantes. Outros sob a forma da serena pombinha branca que velou D. Eugênio Sales na Catedral do Rio de Janeiro. Ou de uma borboleta, conforme se passou em Ponta Grossa com a radialista e pianista paranaense Maria do Rocio.   

O relato está no meu livro “Serra Abaixo Serra Acima, o Paraná de trás pra frente”, mas a última imagem a sintetizar o espírito do cardeal traz de volta a história daquela menina que começou a aprender a tocar piano com apenas quatro anos de idade, em função de uma verdadeira fascinação que a mãe, dona Maria, tinha pela música. Maria do Rocio assombrava a todos, com a facilidade com que também tocava acordeom, violão, cavaquinho, bandolim, cítara e gaita de boca.

Em 1938, depois de se apresentar nas rádios de São Paulo, onde foi considerada um fenômeno, para desespero da menina de apenas onze anos a mãe faleceu. Revoltada, a garota abandonou a promissora carreira musical. Na casa em que viviam, restaram abandonados todos aqueles instrumentos, motivos de paixão de dona Maria.

Depois de um ano, um fato inexplicável teve lugar naquela sala onde se achavam recolhidos seus antigos instrumentos. Olímpia, a doméstica da casa, entrou um dia na sala e começou a ouvir notas espaçadas ao piano. A mulher chamou imediatamente o pai da menina para também constatar o fenômeno.

Daí em diante, o estranho acontecimento repetiu-se com outros instrumentos musicais. E de tanto se repetir, a família concluiu que o fenômeno não passava de um aviso, de uma tentativa da falecida mãe para fazer com que a filha não abandonasse os estudos.

Maria do Rocio voltou à academia de música e, na conclusão do curso, executou no piano a música que mais emocionava sua mãe: o Hino Nacional Brasileiro. Quando os primeiros acordes encheram o salão nobre do Clube Pontagrossense, os presentes viram, pasmados, a súbita aparição de uma enorme borboleta que, depois de muito revolutear, foi pousar delicadamente na tampa do piano. Lá permaneceu vista por todos, menos pela pianista.

Ao fim, uma salva de palmas coroou a extraordinária execução da menina e, por uma razão incompreensível, nenhuma das pessoas presentes, que tão atentamente observavam a misteriosa borboleta, foi capaz de indicar seu paradeiro, assim que a peça terminou.

Ninguém a viu voar, ninguém a viu dirigir-se a qualquer recanto do salão, ou mesmo a qualquer das janelas. A borboleta desapareceu misteriosamente, sem que ninguém se apercebesse.