Espírito natalino

Certas histórias se parecem com cachorrinhos perdidos. De tão boas, são recolhidas e guardadas até que o verdadeiro dono apareça. Recebi uma dessas histórias, sem dono e sem autoria, e não resisti à tentação de fazer uma adaptação para um conto natalino, tendo como personagem um chefe de família chamado Nicolau, com sua amada esposa Nicoleta.

Nicolau e dona Nicoleta já estavam jantando, quando entra em casa a filha Nicola, esbaforida:

– Tenho uma péssima notícia! Não sou mais virgem! Sou uma vaca!

E começou a chorar, com as mãos no rosto vermelho e um ar de vergonha. Silêncio na mesa. De repente, começam as acusações mútuas:

– Isto é para você tomar jeito! – bateu na mesa Nicolau, dirigindo-se à esposa Nicoleta. Fica se exibindo como uma fruta barata e se arreganha para o primeiro imbecil que chega aqui em casa. É claro que isso tinha que acontecer, com os exemplos que você dá a essa menina!

Dona Nicoleta subiu nas tamancas. Também gritando, jogou um prato de porcelana no chão:

– E quem é o idiota que gasta metade do salário na madrugada e se despede dos amigos boêmios na porta de casa? Pensa que eu e Nicola somos cegas? E, além do mais, que belo exemplo de homem você é? Desde que assinamos esta maldita tevê a cabo, quem passa todos os finais de semana assistindo filmes pornôs de quinta categoria, com direito a todos os tipos de gemidos e grunhidos? Uma baixaria!

Desconsolada e à beira de um colapso, dona Nicoleta correu para o quarto da filha Nicola. Com os olhos cheios de lágrimas e a voz trêmula, pegou ternamente na mão da menina e perguntou baixinho:

– Filhinha, como foi que isso aconteceu?

Entre soluços, a menina respondeu:

– A professora me tirou do presépio! A Virgem agora é a Vanessa, eu vou fazer o papel da vaquinha!

Depois do jantar a família foi às compras. Nicolau, de saco cheio, à frente. Dona Nicoleta a um passo atrás, ainda consolando a Nicola. Em dezembro, todo pai é milionário. Quer queira quer não queira o gerente do banco.